«Assim, retomando a polémica, espero ver sair da luta escrita em punhos de renda, algumas novidades. Pode ser que arrebitem a estamina e provoquem a língua escrita. Pode ser... mas não tenho grande esperança, como se confirma pelo tom conciliatório dos últimos postais. A vidinha, pois...» (publicado no dia 29 de Janeiro, no Grande Loja do Queijo Limiano, sob o título "O Relógio Parado"). O texto é de um passarão que assina simplesmente «José». Um anónimo, portanto. É preciso ter uma grande cara-de-pau: um gabiru sem tomates para assumir a identidade tem o descaramento de alvitrar sobre a vidinha dos outros. Ora, ora!
O que me foi arranjar, João Pedro… Só agora me apercebi que a minha caixa de correio fez ding-dong. Estava entretida na hidroginástica, fila da frente, mamas acima da linha d´água, cu abaixo, pais e avôs de touca atrás de mim, a ver quem aguenta mais tempo sem respirar. Uma peida submersa é visão encantatória, e não fosse o caso de me rapar com denodo (hei-de falar disto), acredito que de tanto dar às pernasum ou outro pintelho assomaria à janela das bordas.
O problema, Querido Paulo, é que isso do tomar café, ainda que pingado, teria de ter acompanhamento à sardinha assada. Estômago nórdico não aprende línguas.
Acresce que sempre fui um nadinha desconfiada de promessas em papel molhado. Não queira saber quantas vezes me garantiram que nem sequer me olhariam para as costas e passados dois minutos já estava a afastar reptilíneos dedos da chana.Por ora, apenas amigos. Mas não desespere, que saberei destrinçar intenções cavalheirescas de burro de cinco patas.
Mas a sua proposta sub-reptícia quase me afasta do essencial. Estamos aqui a discutir a génese, problemas e dissonâncias de fazer crítica a lamber o cu a compinchas de jantaradas. Respeito nesta fase, se não se importa.
Quanto ao swing, que espero esplanar assim que me dê tempo, não confunda, por favor, com melês de rugby ou outras atabalhoadas tácticas de tudo-ao-molho. Precisamente o contrário, como verá em breve. Olhe, é um pouco como o minete, que a maioria de vós insiste em fazer de língua espalmada. E uma rata não é um envelope, caramba.
Ora lá está você, seu incorrigível truculento, metido em mais uma quezília com os seus colegas da blogosfera especializada. Como imigrante recente, tenho achado imensa graça a este toma-lá-dá-cá sobre crítica, amigos, objectividades e compadrios. Eis-me portanto numa aldeia. Mas descansem as lusas trocas de galhardetes: estais longe de ser únicos. Dou-lhe esclarecedores e extremados exemplos. A questão é tão actual e pertinente na minha Escandinávia natal, que nações vizinhas cedo se viram em lados opostos da barricada. De um lado da fronteira, a imparcialidade quer-se glaciar. Os amigos dos críticos assinam documentos onde se comprometem a não publicar obra. Se já publicou e vem depois a conhecer um crítico, o crítico abandona o ofício e arranja emprego numa bomba de gasolina. Recordo mesmo certo crítico que pediu escusa ao editor por ter visto de relance num restaurante o autor sobre quem preparava recensão. Acresce que, quando interrogado pelo editor, não soube dizer com exactidão o que levava vestido. Ou mesmo se seria homem ou mulher. Pareceu-lhe vê-lo, enfim. A única referência que tinha era uma foto tímida, a preto e branco, de uma das primeiras edições do autor. Recusou prosseguir com a crítica. Senão, depois, como é que era? Atravessa-se a fronteira e que temos? Ainda no mês passado, um pai debruçava-se sobre a obra do filho. Ali se podia ler que “estamos perante uma escrita de um lirismo que pode parecer ingénuo, mas que encerra, sem dúvida, a acutilância matreira de quem gosta de se fazer de parvo não o sendo, alguém que procura o contrário do que insinua afirmar sem, no entanto, se comprometer, o que só está ao alcance de uma maturidade aguda”. Mais à frente, o crítico continua a sova no filho. Sim, que não espere favores. Desanca-o com um arrepiante “…é um livro desigual e arriscado, de um quase romancista ainda no fio da navalha, ainda que seja necessário lembrar que a maioria dos nossos romancistas se resumem a um-quarto de autor, não faltando os que rastejam na condição de um-oitavo ou mesmo, ouso dizê-lo, um-décimo de escriba. Acresce que em todos os grandes romancistas a arriscada desigualdade é por vezes uma máscara que troça de nós, o seu fio de navalha uma espada de poder que só não desaba sobre o leitor por misericórdia. Em resumo: o autor não me dava um prazer tão grande desde que subiu a nota a Matemática no 10º ano ou não contou à mãe que lhe apalpei uma amiga que veio estudar com ele.” Ora, João Pedro, esta dicotomia de análise, em países que vocês aqui consideram civilizados, não pode deixar de contribuir para vos fazer pensar. Longe de mim alimentar mais esta polémica, até porque não possuo as ferramentas necessárias, mas remeto para mais tarde uma experiência de vida que considero interessante para os seus apaixonados oponentes lerem.. Levo anos de swing de casais. Um dia explico-lhes como pode a experiência ajudar o crítico literário.
Era de prever. José Mário Silva, entalado de suspiros, veio negar a realidade. Por outra palavras, toma-nos por parvos. A estratégia é a do costume nestas ocasiões: escandalizar-se com o escândalo. Porque, enfim, tudo não passa de uma teoria da conspiração. E ele, José Mário Silva, não percebe a razão de todo este «banzé». Mas vejamos, que esta farsa é demasiado obscena para ficar por aqui. José Mário Silva considera que não fez nada de grave e de indecoroso. Só ele é que não vê isso, até o seu colega de redacção, Pedro Mexia, admitiu o óbvio: «Em contrapartida, reconheço que não se deve escrever sobre um amigo próximo (acho que só o fiz uma vez, em 8 anos). O caso do Nuno Costa Santos é pertinente porque eu vou apresentar o livro dele (porque sou amigo dele) mas não vou escrever uma crítica sobre o livro (porque sou amigo dele)» (sublinhados meus). É daquelas coisas que se mete pelos olhos dentro. Se José Mário Silva não percebe esta regra elementar, tanto pior para ele. Mas JMS sabe-a toda, mariolas como ele sempre existiram. Não fosse o texto dele no DN e o livro do amigo (hui! hui! hui!) jamais teria esta exposição. Mais tarde ou mais cedo, Nuno Costa Santos pagará o favor. É só uma questão de tempo. Em sua defesa, José Mário Silva reproduz o rodriguinho da amizade que deu origem à confusão. E para que não fiquem dúvidas, JMS sublinha duas passagens: «versos de um lirismo por vezes ingénuo» e «uma escrita arriscada e desigual, no fio da navalha, por vezes excessivamente rasa. Quase poemas de um quase poeta capaz de versos completos.» É de uma pessoa se esbandalhar a rir. Não percebi patavina. Perceberam alguma coisa? Responda quem souber. De resto, o que está em causa não é a profundidade da crítica. É o espaço que colegas de trabalho (e amigos pessoais) concedem uns aos outros no DN. São os textos sebáceos que uns e outros ejaculam uns para os outros. Quantas vezes será preciso dizer isto? E não se trata de caso único. Isto é prática corrente nos jornais portugueses, sendo o exemplo mais gritante o semanário Expresso. Estas coisas, lamento, mas são de fazer vomitar um caracol. JMS, por muito que isto lhe custe, fez asneira. E, em vez de reconhecer o erro próprio, ainda veio defender-se como se tivesse nascido ontem. Repito: o texto que José Mário Silva escreveu é sintoma de medievalismo e de oportunismo. Mais, denuncia a estrutura mental de um crítico que ainda não atingiu a idade de pensar. E mais não digo.
Assim vale a pena conversar. Só por isso valeu a pena escrever o texto das toupeiras. A questão do gosto que atirei ao Pedro Mexia remetia para isto: quando o José Mário Silva escreve sobre o Nuno Costa Santos o gosto nunca pode ser visto como desinteressado. E remetia também para um juízo talvez errado: encarei o post do Pedro Mexia sobre Pacheco Pereira como uma defesa corporativa. Claro que escrever um prefácio não tem nada que ver com escrever crítica num jornal. O crítico que escreve num jornal deve reger-se pelas regras do jornalismo em geral, ou estou a pensar mal? A crítica perdeu hoje muita da importância que tinha? Não concordo. Pelo contrário. Há mais gente com ensino superior que lê jornais, revistas, internet, logo mais exposta e receptiva aos textos de crítica jornalística. Responderás: se é mais instruída a sua capacidade de discernimento é maior logo menos dependente do trabalho do crítico. É uma meia verdade. Porque a maioria não é especializada em letras nem trabalha no meio. Depois, há cada vez mais livros a serem publicados, logo as actividades de selecção e de divulgação mais decisivas se tornam. Que os prémios literários (os portugueses) tenham perdido muito do seu poder, julgo que sim. Tudo indica que sim. Agora, caro Pedro, quando um livro é sugerido por ti no DN claro que as probabilidades de ele vender mais exemplares não são desprezíveis. Que o José Rodrigues dos Santos não precise de crítica para vender mais livros, pois está claro que não precisa para nada, mas por outras razões. Mas isso é uma excepção, não a norma. Quanto ao resto, remeto para o meu post imediatamente abaixo: Os AMIGOS. Acho que responde e dá razão ao exemplo sobre o Gonçalo M. Tavares, referido pelo Pedro Mexia.
Quantas pessoas trabalham directa ou indirectamente no meio literário? Umas centenas. E todos serão amigos uns dos outros? É que ser AMIGO e apenas conhecer são coisas ligeiramente diferentes. Se todos são AMIGOS uns dos outros, caramba!, as minhas felicitações. É que eu nem vinte amigos tenho. Logo, por que é que se torna impossível evitar escrever sobre os nossos AMIGOS? Desconfio que é por isto: os conhecidos (não os AMIGOS) são tantos (todos?) que a crítica frontal reduz substancialmente o acesso aos escassos recursos que por aí circulam (e serão eles assim tão escassos)?
A crítica literária (jornalística) e os princípios elementares que a devem nortear. É esta a questão. Tudo o resto é poeira lançada para os olhos. A crítica assenta em gostos e em valores muitos deles pessoais e subjectivos, mas deve também proceder em função de regras e de métodos. A crítica como a entendo e como a aprendi deve ser intelectualmente honesta e basear-se numa objectividade mínima, a possível, a que conseguimos, apesar de tudo, controlar: não escrever sobre livros de amigos no mesmo local onde uns e outros trabalham. É esta uma regra tão básica que sobre ela nem sequer deveria ser necessário falar. O contrário perverte tudo, perverte a essência do acto crítico no espaço público. Todos sabemos que o meio é pequeno e as pessoas se conhecem todas. Tal não impede, ainda assim, o respeito por essa regra. Quando se escreve sobre um amigo, por muito que se negue a pés juntos, há sempre algo que fica em dívida. Ou a suspeita disso, pelo menos. Como se costuma dizer sobre a mulher de César, à crítica não basta ser séria, é preciso também que o pareça. Tivesse eu poder para decidir os livros que seriam criticados e jamais me colocaria na posição de escrever sobre o livro de um amigo e, principalmente, de um colega. Tal como se eu fosse objecto de uma crítica feita por um amigo tudo faria para disso o demover. Para essas coisas, felizmente, existem os blogues, muito mais pessoais, onde ninguém está a ocupar um bem que é reduzido e onde não se está a ganhar dinheiro, a ser pago para cumprir as normas da profissão. Na imprensa, julgo, o espaço que é concedido a autores, livros e editoras deve, tanto quanto possível, remeter para o mérito, ou seja, o crítico pegou naquele livro por todas as razões menos porque conhece o autor ou dele é amigo e colega. Na imprensa o espaço é, de facto, escasso. Principalmente se pensarmos na quantidade de livros que nos dias de hoje todos os meses são publicados. Escrever num jornal não é apenas um direito, um troféu para exibir. Implica deveres para com quem gasta dinheiro na compra do jornal. Deveres de um mínimo de decência, não andar para ali a enganá-lo gritando-lhe livros que deve comprar e ler por razões dúbias (a maior parte das pessoas nem sabe que aquele livro é de um amigo de quem assina a prosa e, provavelmente, não sabe que o autor do livro também escreve nesse mesmo jornal que ele tem na mão; o trabalho das toupeiras é esse, actuar na sombra, às escondidas dos leitores menos informados). Pessoalmente, detestaria ler num jornal uma opinião sobre um livro meu escrita por aquela pessoa com quem bebo copos, vou a jantares e que até está ali mesmo em frente na secretária da redacção onde ambos trabalhamos. Isso, só de imaginar, é horripilante. Que tipo de pessoa seria eu caso fosse conivente com tal situação? Que tipo de orgulho teria pelo meu trabalho? Eu quero que o meu trabalho seja avaliado por si próprio. Só isso me ajudará no que fiz bem e no que fiz mal. Um tipo que bate palmas só porque é meu amigo não me está a ajudar. Prefiro que digam mal daquilo que faço de forma activa, ou seja, com inteligência, obrigando-me pensar, prefiro isso a que digam bem passivamente, por reflexo de amizade. Que raio de crítica é essa? Não é crítica, é apenas publicidade e divulgação. Que os editores queiram promover os seus colaboradores para dar prestígio ao próprio jornal, sim senhor, mas então reservem espaço para fazer publicidade aos seus trabalhadores, não o misturem no espaço da crítica. Não aldrabem. Sejam sérios.
Percebe-se: o que incomoda certas pessoas não é tanto um texto sobre práticas que elas, mais do que eu, conhecem de gingeira. É a repercussão que ele tem teve por intermédio de alguém muito conhecido no meio cultural, como é o caso de José Pacheco Pereira. Não se tivesse Pacheco Pereira referido ao As Toupeiras Acomodam-se e a coisa ficar-se-ia, provavelmente, por aí. O texto, em si, não diz nada de novo. Mas, enfim, há sempre alguém que enfia a carapuça. O irónico no meio disto tudo é ter sido o Pedro Mexia, defensor do carácter desinteressado dos gostos culturais, a fazê-lo. Dá que pensar...
Andamos equivocados. Não vale a pena andar para aqui a fingir. Temos uma crítica literária jornalística de fachada. É triste assistir à rapaziada que agora se afirma nos jornais e na escrita a repetir os vícios da malta mais velha. A verdade é que as gerações mais novas, pelas condições privilegiadas de acesso à informação, ao conhecimento, a outros hábitos culturais, etc., deveriam ser capazes de fornecer-nos uma crítica com critérios de avaliação e de exigência outros que não a esperteza saloia e o oportunismo. No entanto, é o que se vê: não mudam nem aprendem nada. O novo suplemento das sextas-feiras do Diário de Notícias ainda mal amanheceu e já as toupeiras se acomodam nos buracos. Na edição de hoje, na página 27, José Mário Silva, jornalista do DN, assina prosa sobre livro de Nuno Costa Santos, amigo pessoal, também ele a colaborar no suplemento, ambos da equipa que organiza o É Cultura, Estúpido, no S. Luiz. Patético e burlesco! É o mínimo que se pode dizer. Para ser mais directo: influências que se movem, sectarismo, medievalismo. Textos que se escrevem em função dos favores, críticas que se cozinham como benesses e mesuras a amigos e colegas de trabalho (é assim que se formam as clientelas, alguma dúvida?). Dá-me vontade de rir quando vejo esta gente a encher a boca com elogios a cronistas brasileiros como Paulo Francis, o mesmo Francis que nas crónicas se revoltava contra a crítica encarada como "acção entre amigos". Não, esta gente lê mas não aprende nada. O meio é pequeno, não dá para fugir a isto? O tanas! Não passam de preguiçosos sem recursos críticos. Depois é vê-los nos lançamentos dos livros, inchados de importância, todos cochichos e risinhos, em jogos de conveniência e floreios de aproximação, com ar balofo e expressão pretensiosa. Ou muito me engano ou ainda veremos Nuno Costa Santos a escrever no DN sobre um livro de José Mário Silva. Que remédio. É o que há!
Aqui lavro, veemente, o meu protesto. Não tenho tido um dia de descanso, desde que você, devidamente acolitado por um Pedro Mexia, mais uns engraçadinhos da blogosfera, decidiram dar à estampa pública as assanhadas descrições nascidas dessa mente tortuosa, que mete ao barulho sopas do mar, monstruosas erecções e uma quimera respeitável como a de Colombo. Acontece, por infortúnio e coincidência, que me chamo Lena e o meu passaporte confirma: nasci na Escandinávia. Os genes, como se não bastasse, dotaram-me de características quase caricaturais. Leia-se: gosto de trazer o cabelo loiro comprido, o que o faz precipitar-se-me encaracoladamente sobre os ombros, e sim, apesar de não vislumbrar vestígios de chupeta nas pontas, os meus seios desafiam a elasticidade de qualquer tecido. Que se passa, então, desde que iniciaram as graçolas? Não posso sair à rua sem ouvir dichote. Lambem-me com os olhos velhos na fila do supermercado, atiram-me indecências várias os trolhas nos andaimes. Senhoras respeitáveis, deambulando pela FNAC, medem-me as mamas com indisfarçável descaramento. Grupos de adolescentes borbulhentos ultrapassam-me no passeio, para se voltarem para trás e fingirem tossir, enquanto riem e gritam uns aos outros: sopa de peixe. Agora multiplique. Estamos a falar, é bom que não esqueça, de cerca de 70 mil exemplares vendidos, meu caro. And counting. Acresce, se me permite, que você falha o essencial. O Codex apresenta-se como ficção histórica, definição que esconde veleidades de caução no real. Ora o que lemos cinge-se à mais pura inverosimilhança. Qualquer mentecapto percebe que Tomás, o garboso historiador, não é mais que um alter-ego de Dos Santos, disfarçado com a mesma eficácia dos pais de Woody Allen nas suas máscaras com bigodes em Inimigo Público. A ser assim, ler Tomás é ver Dos Santos. E aqui reside o embuste. Não será de admirar que, após a leitura atenta e assombrada das aventuras do historiador maroto, milhares de rapariguinhas a soldo dos primeiros desarranjos hormonais sintam com nova esperança aquele piscar de olho com que Dos Santos se despede de nós no Telejornal. Puro engano, engodo feio. Pois aqui concordo consigo. O Santos, como o Miller e outros que tais, gosta de encaralhar no papel para esquecer tanta sarapitola angustiada. Vingança, talvez, de moças que fingiram gemer debaixo deles, perdem-se deliciados na imaginação de possuírem respeitosos pénis marmóreos, de avermelhados veios. E, no entanto, parece que o vejo a brandir-me a minhoca em frente ao peito. Evito a punheta de mamas, que não gosto de apertar cabeças de dedal. E estou com a Anaïs. Não me quer parecer que adiantassem muito esforços de o abrigar cá dentro. Chame-me céptica, mas não pressinto por ali estocada que me faça cócegas no fundo da rata. Não o maço mais. Mas culpe-se com o resultado. Vou cortar o cabelo pela orelha, tingi-lo de negro e responder Ingrid a quem me perguntar o nome. No meio de tanta mama, sopa, fremência de pénis, esporradela e idosos que me apalpam o cu de livro debaixo do braço, fiquei um bocadinho sem perceber: o Colombo era português ou quê?
Após demorada deliberação, encontrei finalmente a primeira frase das crónicas publicadas na imprensa. Ainda hesitei entre uma de duas assinadas por Inês Pedrosa. A primeira, do Público de 18 de Janeiro, não me merece qualquer comentário, de tal forma está para além do ridículo: "Caro Manuel: Devia talvez começar esta carta por «senhor Presidente»". A segunda é de ontem (20 de Janeiro), da revista Única do jornal Expresso. «Se as opiniões dessem fruto, Portugal seria o pomar do Mundo» (a escritora segue depois numa algaraviada sobre esta coisa inacreditável que é haver cada mais portugueses a dar a sua opinião, principalmente na internet, leia-se nos blogues. É impressão minha ou esta Inês Pedrosa é a mesma Inês Pedrosa que todas as semanas opina em jornais, na televisão, nas estações de rádio... É preciso ter lata!). Bom, seja como for, a frase vencedora desta semana é, caros e caras, de uma linguista e professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: Isabel Hub Faria. Preparem-se para: «Não sei se me apetece falar de alguma coisa» (Público, 18 de Janeiro, p. 6).
I think I fell in love with Sally while she was eating breakfast, the first morning we were together. Either I did it then or I did it a little earlier the same morning, watching her stretch. I had gone up to Austin to waste time and eat Mexican food and ended up getting invited to a party at a professor’s house. He was a dapper little English sociologist with a great lust for students – he referred to girls as fuckists, a term I had never heard. Several times during the evening he came over to me and pointed at a girl and said “There’s a great little fuckist for you, my boy.”
Não há maior recompensa. Receber mensagens comentando textos, sugerindo ideias, propondo alterações, corrigindo atentados ao rigor. Por causa do Auto-Retrato (Apócrifo) de Manuela Ferreira Leite, recebi esta «carta» de um leitora – professora de biologia – chamando a atenção para alguns erros. Uma das lições que tenho retirado da sociologia (em particular dos trabalhos de Howard Becker) é que toda a actividade, em última análise, é sempre colectiva. E isso até num domínio encarado, por norma, como intrinsecamente individual: a produção intelectual. Um texto tem um autor, depende de um esforço e de um talento individuais. No entanto, o resultado final implica sempre mais gente. Quando um editor, um revisor tipográfico, um amigo, seja quem for, levou o autor a cortar texto, convenceu-o a modificar frases, a trocar de adjectivos, a repensar um argumento, etc., esse texto adquire necessariamente uma dimensão social e deixa de ser única e exclusivamente produto de um ser isolado. Reconhecer isto é tão simples e não custa nada. Publico a seguir a mensagem que me foi enviada por uma leitora que desde há meses tem tido a paciência de conversar com a minha ignorância (se forem ao auto-retrato de Manuela Ferreira Leite, verificarão que as sugestões desta leitora foram seguidas à letra).
João Pedro,
se me permite, chamo-lhe a atenção para dois pequenos aspectos do seu texto («...retrato apócrifo »), menos correctos, em termos científicos. Considero que são, apesar de tudo, pouco relevantes para a "qualidade literária" final, despercebidos e diluídos no objectivo principal (" parodiar-um-estupor-de-mulher"; não será um homem disfarçado?).
1º Os açucares são hidratos de carbono simples, mono ou dissacarídeos, como a glicose, a frutose (maçã e outras frutas), a lactose, entre outros. As fibras também são hidratos de carbono (estruturais), moléculas grandes, complexas, não digeríveis pelos humanos (ex. celulose, lenhina,...). Ao ler o que escreveu, fica-se com a sensação que os hidratos de carb. são um grupo de nutrientes, os açucares outro e as fibras outro- não! Então poderá dizer: «... 22g de hid. de carb., dos quais 16g são açucares e 5g são fibras...» Repare que 16g + 5g = +/- 22g (!)
2º Compara o teor de sais minerais em dois peixes (pescada e bacalhau) mas, normalmente, não se considera o azoto um sal mineral porque ele chega ao organismo via compostos orgânicos (proteínas). Fica estranho afirmar que o bacalhau tem mais azoto. Porque não: «... o bacalhau é mais rico em proteínas que a pescada», ou algo parecido ? (isto resulta da minha "deformação" em biologia, sorry! Não leve a mal...).
Na verdade até acho imensa graça ao ponto de vista biológico dos "cérebros letrados"... da mesma maneira que estes se desfariam em risos, caso eu partisse tijolo no cérebro a tentar escrever poemas...Horror autêntico!
Bem, ri-me com gosto do exagero no limite, especialmente a «despesa no salão de cabeleireiro...» (ela é feia que até dói...) e « comer o ovo...» ( que nojo!...), entre outros.
Na crónica de opinião do Mil-Folhas, fazendo o balanço literário de 2005, Eduardo Prado Coelho diz que «podemos referir ainda dois livros de Luiz Pacheco, que, se não existissem, não se perdia nada». Tem razão, é vero. Mas também é verdade que se Eduardo Prado Coelho não existisse também não se perdia nada.
Há muitos anos (1997), quando li num jornal que a Constança Cunha e Sá seria a nova directora do Independente, enviei-lhe uma carta com curriculum pedindo-lhe trabalho. Passadas umas semanas, a resposta chegou, assinada pelo Pedro Boucherie Mendes, pedindo-me para escrever três textos: um sobre o programa All You Need is Love, outro sobre o Steven Spielberg e outro sobre a banda Oasis. O resultado foi ter começado a colaborar com o Independente – bons tempos! – na secção de livros. Foi o meu primeiro trabalho qualificado (os meus trabalhos anteriores só por eufemismo não eram considerados «construção civil»: montei e desmontei muitos dos palcos dos concertos no Estádio de Alvalade: Guns and Roses, Rolling Stones, U2, David Bowie, Elton John, Genesis, Brian Adams, etc). Mas não foi apenas o meu primeiro trabalho, foi muito mais do que isso. Foi um trabalho que consegui sem essas personagens essenciais que são a cunha, os conhecimentos, os favores, etc. Apenas com uma carta, um curriculum e três textos. Não conhecia a Constança (como ainda hoje não conheço, nunca troquei palavra com ela) nem mais ninguém do jornal. Vem tudo isto a propósito de só ontem ter ficado a saber que a Constança escreve num blogue . E porque finalmente posso agradecer-lhe não ter feito com a minha carta o mesmo que quase todos fazem: mandá-la para o lixo. Bendita seja!
Presidenciais: Quem é que disse que a idade não conta?
Pivot da SIC Notícias: «No final do comício, Soares voltou a ser confrontado pelos jornalistas com as palavras de Ribeiro e Castro. O candidato respondeu assim...»
Jornalista: «Ficou chocado com o que disse o líder do PP?»
Mário Soares: «Não. Não foi o líder do PP que disse isso... aquela coisa a que eu me referi, do terrorismo, foi o líder do CDS que disse. O Dr. Ribeiro e Castro, que é uma coisa inaceitável e impossível... ele diz aquilo... ele é, ainda por cima, deputado do Partido Socialista... um dos grandes grupos do partido socialista é o partido socialista... é o partido socialista europeu... imagine lá como é que ele vai entender-se com os colegas de parlamento a dizer dessas coisas no plano interno!... e é feio, não é bonito... e é uma pena...»
Tudo sempre foi fácil para mim. Toda a minha vida tem sido simplesmente feita de etapas confortáveis e rasgos de sorte. Nunca tive de me esforçar muito para atingir os meus objectivos. Sempre fiz o que quis e obtive o que pedi. Nunca tive grandes desilusões, não vivi uma guerra, não assisti a nenhuma revolução, não tenho lembranças dolorosas ou penosas, não tenho traumas, nunca tive insónias, não penso no futuro. Nunca tive desgostos de amor. Sou novo, sou jovem, as mulheres desejam-me. Nasci predisposto para a felicidade, a boa disposição, a despreocupação. A natureza concedeu-me este talento: viver com a certeza de vencer.
Isso não se faz. Ando eu a ler O Codex 632 (vou na página 142), em pulgas para saber se o Tomás vai para a cama com a Lena Lindholm ("olhos azuis e cabelos loiros que lhe tombavam enroladamente nos ombros, à Nicole Kidman, e insinuava uns seios atrevidos e generosos") e tu tiras-me o pão da boca? É que essa era a única razão que me mantinha agarrado à leitura do camarada José Rodrigues dos Santos. E agora? Quem é que me devolve os 22 euros que o livro custou?
O seu namorado, depois de trabalhar uma noite inteira, ainda tem forças para a acordar, com fome de tubarão? A menina deve ser assaz apetitosa. E deixe-me que lhe diga, se o seu namorado, apesar da sua aparente resistência, continua, noite após noite, a dirigir-se-lhe às apalpadelas, a menina até deve gostar. Consigo imaginá-la, com um sorriso lúbrico na cara, a escrever ao George só para o estimular e acicatar. O tratamento do seu namorado não lhe basta?, não está satisfeita?, ainda precisa de vir para aqui, de perna aberta, provocar os outros? Não tem tempo para escrever o romance mas depois escreve mensagens ao primeiro que lhe aparece sem o conhecer de lado nenhum... Havia de ser comigo...
Saiu-lhe a sorte grande! O meu namorado já não tem tesão há dois anos. Os comprimidos dão-lhe cabo da pichota. Ao menos o seu ainda é capaz de pôr uma casa a cheirar a cona. Do que eu me tenho apercebido, os homens hoje preferem pôr creme no rosto, comprar roupa, olhar-se ao espelho. Sexo? Nem vê-lo! As minhas amigas, sem excepção, dizem-me: uma, duas vezes por mês, se tanto. O seu namorado acorda-a de noite, género troglodita? Pois dê-se por muito feliz. Você deve ser das mais satisfeitas mulheres da história da humanidade. E deixe-se dessas mariquices. Está a escrever um romance? Já leu a Inês Pedrosa e a Rita Ferro? Essas, sim, precisam de escrever romances. Uma mulher que escreve romances, para mim, só poder ser por uma razão: anda mal fodida. O que não é, manifestamente, o seu caso. Depois de a ler... fiquei mordida de inveja...
Vitalina Figueiredo, Bragança
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I Prezada, antes de resolver-se a se livrar do seu namorado, pense bem: homem hetero hoje em dia é difícil, ainda mais com todo esse vigor e paixão; é artigo raro. Pense cuidadosamente. Acredito que haja como equilibrar as investidas fogosas com a sagrada tarefa de redigir um romance. Afinal, o amor (não, sejamos práticos, o sexo) é matéria-prima da literatura. Encare sua experiência como um laboratório para a ficção. Boa sorte e divirta-se! Estou aqui, do Brasil, torcendo por você!
Saint-Clair Stockler
II Simples, escreva enquanto faz sexo. Mas, se for rápido de mais, limite-se aos contos. Esqueça os romances. Cumprimentos, Nelson Paiva
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«O meu namorado trabalha em casa, normalmente pela noite dentro e só se deita muito depois de mim. Deita-se e acorda-me sempre com vontade de sexo. Está a enlouquecer-me. Já para não dizer que me sinto cansada durante o dia todo. Se digo que não, fica aborrecido e acabamos por discutir horas seguidas. Decidi por isso não o contrariar (ou seja, fazemos sexo) para depois poder voltar a dormir. É que, caso contrário, no dia seguinte ando com sono e irritada. Tenho um emprego das nove às cinco e estou a tentar escrever um romance.»
Recebi esta mensagem mas não me sinto competente para lhe responder. Leitor(a) do Esplanar, saberá você aconselhar esta mártir?