Caro João Pedro George:
Ora lá está você, seu incorrigível truculento, metido em mais uma quezília com os seus colegas da blogosfera especializada. Como imigrante recente, tenho achado imensa graça a este toma-lá-dá-cá sobre crítica, amigos, objectividades e compadrios. Eis-me portanto numa aldeia. Mas descansem as lusas trocas de galhardetes: estais longe de ser únicos. Dou-lhe esclarecedores e extremados exemplos. A questão é tão actual e pertinente na minha Escandinávia natal, que nações vizinhas cedo se viram em lados opostos da barricada. De um lado da fronteira, a imparcialidade quer-se glaciar. Os amigos dos críticos assinam documentos onde se comprometem a não publicar obra. Se já publicou e vem depois a conhecer um crítico, o crítico abandona o ofício e arranja emprego numa bomba de gasolina. Recordo mesmo certo crítico que pediu escusa ao editor por ter visto de relance num restaurante o autor sobre quem preparava recensão. Acresce que, quando interrogado pelo editor, não soube dizer com exactidão o que levava vestido. Ou mesmo se seria homem ou mulher. Pareceu-lhe vê-lo, enfim. A única referência que tinha era uma foto tímida, a preto e branco, de uma das primeiras edições do autor. Recusou prosseguir com a crítica. Senão, depois, como é que era?
Atravessa-se a fronteira e que temos? Ainda no mês passado, um pai debruçava-se sobre a obra do filho. Ali se podia ler que “
estamos perante uma escrita de um lirismo que pode parecer ingénuo, mas que encerra, sem dúvida, a acutilância matreira de quem gosta de se fazer de parvo não o sendo, alguém que procura o contrário do que insinua afirmar sem, no entanto, se comprometer, o que só está ao alcance de uma maturidade aguda”. Mais à frente, o crítico continua a sova no filho. Sim, que não espere favores. Desanca-o com um arrepiante “
…é um livro desigual e arriscado, de um quase romancista ainda no fio da navalha, ainda que seja necessário lembrar que a maioria dos nossos romancistas se resumem a um-quarto de autor, não faltando os que rastejam na condição de um-oitavo ou mesmo, ouso dizê-lo, um-décimo de escriba. Acresce que em todos os grandes romancistas a arriscada desigualdade é por vezes uma máscara que troça de nós, o seu fio de navalha uma espada de poder que só não desaba sobre o leitor por misericórdia. Em resumo: o autor não me dava um prazer tão grande desde que subiu a nota a Matemática no 10º ano ou não contou à mãe que lhe apalpei uma amiga que veio estudar com ele.”
Ora, João Pedro, esta dicotomia de análise, em países que vocês aqui consideram civilizados, não pode deixar de contribuir para vos fazer pensar. Longe de mim alimentar mais esta polémica, até porque não possuo as ferramentas necessárias, mas remeto para mais tarde uma experiência de vida que considero interessante para os seus apaixonados oponentes lerem.. Levo anos de swing de casais. Um dia explico-lhes como pode a experiência ajudar o crítico literário.
Sua, Lena