O caso de Mário Soares não espanta tanto. Mário Soares possui a cabeça de um governador civil do Sr. Dr. Afonso Costa e não custa imaginá-lo, em 1912, declarando na farmácia da Lourinhã as suas convicções de republicano, laico e socialista. Depois de Jaurès não aprendeu nada, nem esqueceu nada. Há quase um século que não lhe entra uma ideia na cabeça, como coisa distinta das trivialidades piedosas para uso oratório, que ele adapta à variável inclinação dos tempos.
Soares está velho de mais para mudar e, de resto, até quando era novo, nunca se distinguiu pela subtileza.
Vasco Pulido Valente,
Esta Ditosa Pátria, Lisboa, Relógio d'Água, 1997, p. 164.
Os portugueses não gostam que se «diga mal» de nada e desconfiam de quem diz. «Dizer mal» de um livro, de uma escola, de um hotel ou de uma política é sempre considerado um «ataque» de pessoa a pessoa e atribuído aos piores motivos: à inveja, à cobiça, ao ressentimento e por aí fora. Não ocorre a ninguém que «dizer mal» do livro não implica «dizer mal» da pessoa privada do escritor (...).
(...) «dizer mal» é uma condição indispensável para produzir bem e obrigatória para produzir melhor. No hábito de «dizer mal» do que nós fazemos e do que os outros fazem reside a essência da capacidade de aperfeiçoamento e, por conseguinte, de competição. E o Dr. Cavaco quer um país que «não diga mal» e que ao mesmo tempo seja capaz de competir. No fundo, o Dr. Cavaco não sabe o que quer.
Vasco Pulido Valente, "Elogio da Maledicência",
Esta Ditosa Pátria, Lisboa, Relógio d'Água, 1997, pp. 82-85.
Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas (António Lobo Antunes)
Anda por aí um blogue novo, de seu nome
Prazeres Minúsculos . Um dos autores é o João Villalobos, em tempos meu chefe no
Independente. Fora com os chefes!
Eu, leitor atento de
Ana Sá Lopes . Eu, que num certo fim de tarde, à porta da Hemeroteca, fui ao ponto de lhe manifestar a minha admiração. Eu, que há muito me habituei à desilusão, estou varado! Sábado passado, no Mil-Folhas, Ana Sá Lopes assinou um atestado de menoridade intelectual. Valha a verdade: é uma obra-prima do género. Sobre isto, recomendo vivamente a leitura do Casmurro, em particular o texto assinado pelo
Professor Abel Barros Baptista . Até dá gosto!
Sobre as tomadas de posição de Manuel Alegre antes da candidatura às Presidenciais reproduzidas no
Da Literatura , talvez valesse a pena, caro
Eduardo Pitta , consultar os arquivos do
País Relativo , em particular certas tomadas de posição nas últimas eleições para Secretário-Geral do PS. No fundo, Francisco Louçã é que tem razão: fica tudo em família, Alegre, Soares, etc.
«Watching The Wheels»
People say I'm crazy doing what I'm doing
Well they give me all kinds of warnings to save me from ruin
When I say that I'm o.k. well they look at me kind of strange
Surely you're not happy now you no longer play the game
People say I'm lazy dreaming my life away
Well they give me all kinds of advice designed to enlighten me
When I tell them that I'm doing fine watching shadows on the wall
Don't you miss the big time boy you're no longer on the ball
I'm just sitting here watching the wheels go round and round
I really love to watch them roll
No longer riding on the merry-go-round
I just had to let it go
Ah, people asking questions lost in confusion
Well I tell them there's no problem, only solutions
Well they shake their heads and they look at me as if I've lost my mind
I tell them there's no hurry
I'm just sitting here doing time
I'm just sitting here watching the wheels go round and round
I really love to watch them roll
No longer riding on the merry-go-round
I just had to let it go
I just had to let it go
I just had to let it go
“Não interromperemos as explorações. E no final das nossas buscas chegaremos ao sítio onde começámos e olhá-lo-emos como se fosse a primeira vez” (T. S. Eliot)
“Fosse a minha história um epitáfio e já teria escrito um curto para mim. Escreveria na minha lápide que tive um arrufo amoroso com o mundo” (Robert Frost)
(Tradução de Sara David Lopes)