O debate sobretudo blogo-esférico em torno dos terroristas nas barraquinhas da Festa (ainda bem que não há outra como aquela!) provavelmente nunca sairá verdadeiramente deste âmbito para o outro, político, onde devia estar. Mas, ao menos aqui, convém notar algo que por estes dias também se comentou a respeito de outros assuntos, a relação entre violência e política.
Ontem, justamente a propósito dos discursos na Festa, Prado Coelho perguntava pelo sentido de referir Lenine na política de hoje. Cultor de longa data das tácticas leninistas (que nesse mesmo dia lhe valeram um processo judicial por parte do presidente do Gil Vicente…), Prado Coelho sabe bem a resposta, e em qualquer caso o artigo ao lado do seu (de Rui Ramos, sobre o entusiasmo no Ocidente pelos terroristas islâmicos) explicava: para justificar a violência como política.
Não «violência em política», coisa inevitável e não inteiramente nociva (leia-se Weber). Mas «violência como politica», seja na forma do insulto gratuito como o de EPC (ao presidente do Gil Vicente hoje, como ontem ao J. P. George ou a Augusto M. Seabra, para não me alongar), seja na forma mais prática de acção directa, de substituição da discussão pública racional, dentro de um contexto legal e com sentido de responsabilidade, pela simples eliminação do adversário. O artigo de Rui Ramos não adiantava nada, a não ser novos exemplos, ao que Fernando Gil e Paulo Tunhas já escreveram sobre a má-fé intelectual e as coincidências entre os extremos políticos do Ocidente com as formas negadoras da vida Ocidental (como o islamismo pré-moderno). Mas o relevante é que haja sempre mais a acrescentar…
Agora que nos aproximamos desse triste aniversário de próxima Segunda, o debate sobre as FARC tem o mérito de nos lembrar como o terrorismo está bem próximo e de como, mais do que quaisquer declarações de princípios teóricos ou pessoais, a cumplicidade com ele, nos argumentos e na socialização, é frequente. Sim, Lenine e o seu elogio da violência como política estão bem vivos, falando como EPC, festejando como o PCP, ou matando como os partidários de Deus. Fazem, infelizmente, sentido.
CL
PS – Se me quiserem contradizer, cá espero pelos argumentos. E fica desde já o aviso para prevenir a conversa do «terrorismo de Estado»: os cidadãos livres, as instituições responsáveis e o país a que tanto devemos fizeram o campo de Guantanamo, mas irão, mais cedo ou mais tarde, encerrá-lo. Pois são eles os seus primeiros e principais contestatários. Pudera eu sequer acreditar em algo semelhante a respeito dos cultores de Lenine…