Hoje acaba O Independente, e para variar deve esgotar a tiragem. Ou, talvez melhor, o Indy já acabou há muito tempo, aos poucos, talvez mesmo antes de dar como perdida a meta de vender mais um exemplar do que o Expresso. É simbólico que acabe apenas duas semanas antes de surgir o próximo challenger do Expresso (que aprendeu com a lição do seu antecessor e anuncia não pretender suplantar em vendas o semanário de Balsemão). Simbólico de um jornalismo que nos anos ’80 surgiu e morreu sem remédio, sendo O Independente o seu último resto. O Liberal, O Século (de Albarran), a Sábado (entretanto renascida), e outros que já não me ocorrem viveram de um boom criado pela europeização dos costumes induzida pela adesão à CEE e foram dos primeiros casos de insucesso da nossa economia em corresponder aos desafios da competição. Tal com as TV’s privadas, tentaram sobreviver nivelando por baixo e o resultado foi a agonia.
No caso do Indy foi longa. Apesar de não se notar logo nas vendas, começou com a saída de director do MEC. Para quem pertence à geração de leitores dos anos ’80, como eu, terá sido uma mudança decisiva. O jornal partidarizou-se e, mudado o governo, com isso perdeu sentido. Mantive-me fiel por causa de Júlio Pinto. Mas quando ele morreu deixei de comprar. Ainda segui regularmente a edição na net (esqueço-me do nome de um tipo da publicidade que escrevia crónicas cheias de piada) mas quando ela entrou «em manutenção», por um tempo indefinido, cansei-me. Depois disso, quando reparava nas manchetes, não me interessava. A última de que me lembro foi «Um livro do Carrilho»…
Não me arrependo de ter deixado de o ler, não lhe vou sentir a falta. Mas foi durante algum tempo um caso único em Portugal (bem diferente do Público, que foi sempre o jornal que é hoje, embora tenha sido melhor do que agora é). Por isso escrevi este post vestido com a minha T-shirt de estimação, comprada no tempo áureo do Indy. Não posso scanná-la, deixo o texto que exibe: «Incontrolável. Inevitável. Inconveniente. Insuportável. Incorrigível. Inteiro. Inteligente. Insubmisso. In».
CL