Um debate sobre o que foi o liberalismo, aqui, no
1bsk, no
Fuga, no
Abrupto e noutros sítios (e não foram poucos) transformou-se no
Amigo do Povo num debate sobre o que foi o fascismo (tem a sua piada, mas não sei se Passos a apreciaria). Entretanto, já no Fuga para a vitória (caixa de debate ao post de Daniel Melo de 8 deste mês), o amigo do povo Fernando Martins sugeriu que se convertesse a discussão em livro. Daniel Melo discorda, por entender que demoraria bastante tempo. Eu concordo, mas com mais algumas observações.
Primeira, a ideia contraria uma distinção lembrada por Bruno Cardoso Reis no post do Amigo do Povo que deu origem à «fase fascista» da discussão, entre ensaios académicos e posts. Eu adopto a distinção, logo o livro ou tem vida própria ou não deve existir. E em qualquer caso não dispensa outras discussões.
Depois, basta compilar os posts e os comentários para ter um volume electrónico autónomo. Sobretudo se a discussão continuar, agora que as perguntas que me foram feitas ficaram respondidas (aguardo resposta às minhas).
Mas, sobretudo, por não me pretender afastar do essencial. E o que me interessa não é discussões sobre «o» fascismo (como se este fosse um ser em si), mas compreender o que o liberalismo é e não é em Portugal. Repito, espero que agora com maior clareza: o liberalismo quanto a mim não é uma doutrina política do século XIX. Pelo contrário, é a tradição cultural (política, económica, moral, etc.) que na Europa veio a criar a Esquerda e que depois, com o seu triunfo político, veio a criar o próprio século XIX tal como o conhecemos no Ocidente. Daí que rever a sua crise no século XX não possa ser um mero exercício de história política ou económica (quanto à ideia de a história passar sem conceitos, como F. Martins afirma, dispensa comentários ao autodestruir-se). A sua crise entre as Guerras merece revisão em termos europeus por permitir diferenciar modernidades: a da Europa do Norte, a da Europa do Sul e a Peninsular. Esta última em particular, pois a península resistiu tenazmente à modernidade (ao capitalismo, à Reforma, à ciência moderna, ao liberalismo, etc.) e, por conseguinte, entre nós a crise do liberalismo fez-se sem o seu prévio triunfo. Escrevi aqui a 24 de Julho (esta data...) que, em Portugal, a crise do liberalismo português se deveu a um confronto entre fascismo e comunismo num contexto ainda pré-moderno, ao contrário do contexto da maior parte da Europa ocidental em que esse confronto também se produzia. Saliento que para todos estes termos as acepções políticas e económicas só possuem sentido se reportadas a uma acepção cultural mais ampla, mesmo que mais complexa. E só isso tem sentido histórico, pois sem esse quadro cultural não há nenhum outro mais especializado (económico, político, etc.) que se possa auto-sustentar; só com essa percepção se pode proceder a investigação específica (como já escrevi, é isso que distingue, ainda que apenas um pouco, Pulido Valente dos seus seguidores). Volto a recomendar um livro a que hei-de voltar,
O Pensamento Político Português no Século XIX (de António Pedro Mesquita, na INCM, 2006). É anterior ao período que mais me interessa, mas especifica com muita informação que eu não poderia fornecer o quadro cultural português a que me refiro, remetendo para o século XIX muito do confronto entre reacção e comunismo que me interessa ao pensar no século XX.
CL