ESPLANAR

JOÃO PEDRO GEORGE
esplanar@hotmail.com

domingo, agosto 13, 2006

 

Rever, sem amalgamar

Um debate sobre o que foi o liberalismo, aqui, no 1bsk, no Fuga, no Abrupto e noutros sítios (e não foram poucos) transformou-se no Amigo do Povo num debate sobre o que foi o fascismo (tem a sua piada, mas não sei se Passos a apreciaria). Entretanto, já no Fuga para a vitória (caixa de debate ao post de Daniel Melo de 8 deste mês), o amigo do povo Fernando Martins sugeriu que se convertesse a discussão em livro. Daniel Melo discorda, por entender que demoraria bastante tempo. Eu concordo, mas com mais algumas observações.
Primeira, a ideia contraria uma distinção lembrada por Bruno Cardoso Reis no post do Amigo do Povo que deu origem à «fase fascista» da discussão, entre ensaios académicos e posts. Eu adopto a distinção, logo o livro ou tem vida própria ou não deve existir. E em qualquer caso não dispensa outras discussões.
Depois, basta compilar os posts e os comentários para ter um volume electrónico autónomo. Sobretudo se a discussão continuar, agora que as perguntas que me foram feitas ficaram respondidas (aguardo resposta às minhas).
Mas, sobretudo, por não me pretender afastar do essencial. E o que me interessa não é discussões sobre «o» fascismo (como se este fosse um ser em si), mas compreender o que o liberalismo é e não é em Portugal. Repito, espero que agora com maior clareza: o liberalismo quanto a mim não é uma doutrina política do século XIX. Pelo contrário, é a tradição cultural (política, económica, moral, etc.) que na Europa veio a criar a Esquerda e que depois, com o seu triunfo político, veio a criar o próprio século XIX tal como o conhecemos no Ocidente. Daí que rever a sua crise no século XX não possa ser um mero exercício de história política ou económica (quanto à ideia de a história passar sem conceitos, como F. Martins afirma, dispensa comentários ao autodestruir-se). A sua crise entre as Guerras merece revisão em termos europeus por permitir diferenciar modernidades: a da Europa do Norte, a da Europa do Sul e a Peninsular. Esta última em particular, pois a península resistiu tenazmente à modernidade (ao capitalismo, à Reforma, à ciência moderna, ao liberalismo, etc.) e, por conseguinte, entre nós a crise do liberalismo fez-se sem o seu prévio triunfo. Escrevi aqui a 24 de Julho (esta data...) que, em Portugal, a crise do liberalismo português se deveu a um confronto entre fascismo e comunismo num contexto ainda pré-moderno, ao contrário do contexto da maior parte da Europa ocidental em que esse confronto também se produzia. Saliento que para todos estes termos as acepções políticas e económicas só possuem sentido se reportadas a uma acepção cultural mais ampla, mesmo que mais complexa. E só isso tem sentido histórico, pois sem esse quadro cultural não há nenhum outro mais especializado (económico, político, etc.) que se possa auto-sustentar; só com essa percepção se pode proceder a investigação específica (como já escrevi, é isso que distingue, ainda que apenas um pouco, Pulido Valente dos seus seguidores). Volto a recomendar um livro a que hei-de voltar, O Pensamento Político Português no Século XIX (de António Pedro Mesquita, na INCM, 2006). É anterior ao período que mais me interessa, mas especifica com muita informação que eu não poderia fornecer o quadro cultural português a que me refiro, remetendo para o século XIX muito do confronto entre reacção e comunismo que me interessa ao pensar no século XX.
CL



<< Home


--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Arquivo

julho 2004   agosto 2004   setembro 2004   outubro 2004   novembro 2004   dezembro 2004   janeiro 2005   fevereiro 2005   março 2005   abril 2005   maio 2005   setembro 2005   outubro 2005   novembro 2005   dezembro 2005   janeiro 2006   fevereiro 2006   março 2006   abril 2006   maio 2006   junho 2006   julho 2006   agosto 2006   setembro 2006   outubro 2006   novembro 2006   dezembro 2006   janeiro 2007   fevereiro 2007   março 2007  

Outros Blogues

Abrupto
Alice Geirinhas
Álvaro Cunhal (Biografia)
AspirinaB
Babugem
Blasfémia (A)
Bombyx-Mori
Casmurro
Os Canhões de Navarone
Diogo Freitas da Costa
Da Literatura
Espectro (O)
Espuma dos Dias (A)
Estado Civil
Fuga para a Vitória
Garedelest
Homem-a-Dias
Estudos Sobre o Comunismo
Glória Fácil...
Memória Inventada (A)
Meu Inferno Privado
Morel, A Invenção de
Não Sei Brincar
Origem das Espécies
Portugal dos Pequeninos
Periférica
Prazeres Minúsculos
Quarta República
Rui Tavares
Saudades de Antero
Vidro Duplo











Powered by Blogger

This page is powered by Blogger. Isn't yours?