Sobre o público que se criará, ou não, conjuntamente à alternativa que a net pode ser aos meios de comunicação dos últimos três séculos, aquilo que (me) parece mais problemático é algo que se detecta logo em quem escreve, e que é contrário ao tempo de discussão (não distanciação) próprio do trabalho crítico: um predomínio da sensibilidade sobre o intelecto.
Um aspecto evidente disto, e com o qual simpatizo sem reservas, é a música rock, ou pop, como se preferir. A presença da própria música e de referências mais ou menos claras a ela nos blogs é uma marca geracional, mas é de crer que terá mais importância do que apenas essa. Neste momento, o que se nota é o falhanço de tentativas de aggiornamento cultural da Imprensa para a net (caso de Pulido Valente), quando não de simples abdicação (Prado Coelho), e a fronteira pode bem ser traçada na capacidade de sentir, ou não, a música rock como algo natural, como «a nossa» música. De um modo geral, para quem está hoje acima dos 40 anos isso não é possível (há excepções, como o Rui Bebiano).
Quem espera criar na net uma alternativa e a «next big thing» pode ver nisso uma prova de o futuro passar por aqui. Mas a cultura pop, muito mais do que sucede com a boa música rock, é sobretudo imagem, avessa ao discurso, crítico ou não. Mesmo quem não seja catastrofista no que respeita «ao estado a que o ensino chegou» não pode deixar de pressentir aqui uma dificuldade para veículos de texto, como os blogs, poderem criar um público diferenciado das massas que procuram entretenimento. E mais ainda para quem queira fazer dos blogs os sucessores das funções intelectuais anteriormente reservadas à palavra impressa. Como ficou escrito na primeira parte deste post, não será impossível fazer num blog uma «visão do mundo» digna desse nome (embora seja muito complicado); mas ainda mais difícil será conseguir criar um público para ela.
A menos que se crie não um novo público pela via intelectual mas pela sensibilidade. Ou melhor, por uma nova relação entre as duas. Mas a «relação» é uma categoria muito complicada, como os intelectuais impenitentes devem saber.
CL