O artigo de Medeiros Ferreira publicado hoje no DN é revelador de uma visão estrangeirada da cultura e sociedade portuguesas no século XX. O autor chega a referir-se ao seu passado de exílio, uma das formas de «estrangeiramento» mais relevantes na história portuguesa. A valorização da acção modernizadora, europeizante, da Gulbenkian em Portugal deixa passar em claro, contudo, um problema que a visão estrangeirada por regra não discute (já Borges de Macedo o notou, em 1974): como influencia a sociedade portuguesa esses esforços europeizantes? Nisto, há todo um conjunto de problemas: qual a coerência desses projectos de modernização inspirados na Europa (grande no caso da Gulbenkian, isso parece claro), quais as relações estabelecidas entre os agentes proponentes da modernização e as instituições do país, etc., etc.
No caso da Gulbenkian, a crítica mais frequente é a do seu fechamento. Justa ou não, merece consideração. A Gulbenkian não resistiu ao «Portugal histórico»? Mas esta não é uma pergunta para fazer na festa, esperemos pelo anunciado livro.
CL