Termina este fim de semana e, como era de prever, não saímos vencedores. A avaliar pelas reacções, nem o que serviu a Eusébio é suficiente para os nossos «heróis». Mas não foi um Mundial inútil. Mostrou o que não mudou e o que talvez esteja a mudar.
O que não mudou foi o habitual desperdício dos avançados portugueses em extremos. Cristiano Ronaldo fez toda a sua formação como ponta-de-lança, chegou aos seniores assim (quando Jardel fez greve) e, quando Fernando Santo dizia apostar nele para a função, foi para o Manchester jogar na ala. Na selecção assim continua, mas não tem avançados para ganhar bolas pelo ar e dá no que dá: em três jogos de «mata-mata», 1 golo marcado (e pela relva...). Nisso repete Figo, um dos médios mais goleadores de Portugal até ir para a ala do Barcelona cruzar. Deixou de cabecear e, 11 anos depois, falhou o golo que o levava à final... Clubes como o Barcelona e o Manchester podem desperdiçar nas alas «matchwinners», mas Portugal não, não tem alternativas. Se Cristiano jogasse como Henry (e bastava trocar Pauleta por Simão), jogaríamos como a França e ele teria ganho um penalty como fez o francês. Mas não, estava na lateral. Se Figo jogasse no meio, onde fez melhor figura neste Mundial por não sofrer da sua actual menor velocidade, não saíria derrotado por Zidane. Deco? Que jogasse mais recuado, como no Barcelona.
No futuro imediato, pós-Mundial, Portugal pode jogar como a França. Mas também como a Alemanha, com Ronaldo no papel de Podolsky e alguém mais fixo e/ou mais experiente «a fazer de Klose». Nas costas, retirado Figo, há Quaresma (ou Nani), que Scolari em tempos comparou (e bem) a Denilson. Simão é melhor quando sai do banco, já se sabe. Mas algo me diz que vamos continuar a jogar com os que decidem longe da baliza, a cruzar bolas para as defesas dos outros...
O que talvez esteja a mudar é a mania das culpas. Ainda há quem culpe o áritro, mas já se vê como não convence a maioria. E é bom ver Ricardo Carvalho, sempre tratado como se fosse infalível, reconhecer que fez falta (viu-se que foi sem querer) e não se lamuriar pelo justo cartão que viu. Essa é a nossa verdadeira pequenez, a que procura sempre desculpas para o nosso futebol inconsequente na hora da verdade (até quando é contra os insignificantes gregos, como há dois anos). Mesmo se no passado merecíamos mais a fama de «mergulhadores», que sempre apreciámos muito («ratice», «saber», «experiência», «manha», tudo coisas lindas, para os «analistas de futebol»).
Se hoje mostrarem querer ganhar isso será mais importante do que aquilo que não mudou, mesmo que os alemães acabem em terceiro. Verdade seja dita, é o mais provável.
E amanhã torço pela Itália, claro.
CL
PS - Subscrevo o post do Corta-Fitas: a lei do fora de jogo é fonte de problemas, não resposta a eles.
PPS - E como eu gostava que alguém viesse a Alvalade contratar um dos três melhores guarda-redes do Mundial...