Na 5ª feira, 27 de Abril, a noite de jazz no Maxime foi contagiante. A voz serena e límpida de
Marta Hugon , mais intoxicante que o álcool em cima da mesa, revelou-se uma agradável surpresa. Conheci a Marta na Faculdade, numa roda de amigos do curso de Literatura (não me ocorre agora a designação correcta). Desde então, perdi-lhe o rasto, já lá vão seguramente mais de dez anos. Até que, na véspera do concerto, a Inês Hugon (editora da Tinta-da-China, com quem partilho um gosto imoderado pelos livros da Patricia Highsmith), me revelou a irmã, que me conhecia, que se lembrava de mim, e que ia cantar no Maxime.
No palco, a Marta cantou músicas do reportório clássico americano, como
The Tender Trap (que dá título ao CD),
Too Young to Go Steady ou
I feel so Smoochie. A acompanhar, um trio de músicos fora de série. O piano fluente e empolgante de Filipe Melo, o contrabaixo de Bernardo Moreira (que ressoava na caixa torácica), a bateria ágil e magnética de André Sousa Machado. Quanto à Marta, só me ocorre uma banalidade: encantadora. Toda ela transmitia competência, a facilidade na pronúncia do inglês, a entoação vocal, natural como quem pensa em voz alta, a capacidade de tirar partido das coisas que diz. A tristeza vital em
I Wish I Knew. O sentimento de proximidade em
I Concentrate on You. A mágoa de uma alma não compreendida em
In Love In Vain. A interpretação dos instintos amorosos em
That Old Black Magic. O humano, demasiado humano, na fragilidade das emoções fortes em
Old Devil Moon. A expansiva intimidade, irónica e divertida, em
Too Close For Comfort.
Letras e ritmos que ora apaziguam a alma, ora reacendem o fogo. Ouvir a Marta Hugon, garanto-vos, é como um vírus mortífero que nos entra na corrente sanguínea e nos impressiona o coração: «you're actin' kind of smug/Until your heart just goes whap!» (
The Tender Trap)