Em crónica do último sábado (01/04/2006), no jornal
Público («A Censura Proprietária»), Rui Tavares afirma que «Couves & Alforrecas não se estende por ilações morais e nem sequer por argumentações literárias». Se a primeira parte da frase está correcta, a segunda merece objecção. No pequeno livro da grande ®, faço considerações sobre:
1) quase indiferença da crítica em relação aos textos de ®;
2) temas centrais e estrutura narrativa dos livros de ®;
3) caracterização do perfil das personagens;
4) as estratégias de ® para criar um efeito de realidade nos leitores;
5) a questão da alternância dos pontos de vista;
6) o estilo (onde se incluem, aí sim, as repetições);
7) erros ortográficos e de sintaxe;
8) ideia de originalidade em literatura baseada em David Lodge;
8) no posfácio refiro, ao de leve, a questão da identidade dos escritores com sucesso comercial mas sem reconhecimento da crítica.
Se isto não são argumentos literários então não sei o que são argumentos literários. Estão pouco desenvolvidos, falta-lhes complexidade intelectual, precisavam de mais notas de roda-pé, referências eruditas, etc.? Concedo. Mas não era esse o objectivo, de todo, do livrinho (nem a matéria-prima de ® se presta a grandes complexidades analíticas). Tratar o problema da literatura
light ou
pop, e respectivas audiências de um ponto de vista sociológico, isso já é outra coisa (ainda este ano sairá, pela Fundação Calouste Gulbenkian, um livro sobre práticas de leitura onde a questão é analisada desse prisma).
Sobre a ausência de argumentos literários no
Couves & Alforrecas, a crónica do Rui Tavares pareceu-me pouco rigorosa e injusta. Quanto ao resto, à questão da propriedade intelectual, da propriedade industrial e, finalmente, da liberdade de expressão, assino por baixo.