Com a trepidação dos últimos dias, temo que a minha carta aberta a José Sá Fernandes tenha passado ao lado. Ei-la, pois, de novo. Continuo à espera (sentado, claro) de uma resposta.
Exmº Vereador da Câmara Municipal de Lisboa,
Durante mais de 20 anos fui morador no Bairro Social do Arco do Cego (para ser mais preciso, entre os meus 4 e os meus 27 anos). A minha memória pessoal está pois abundantemente povoada de momentos passados no cenário do Arco do Cego e suas imediações. Ontem, sábado 25 de Março, saído do Saldanha Residence (onde acabara de ver o
Coisa Ruim), dirigia-me eu, levado pelas exigências do estômago, a casa dos meus pais, ali junto ao Liceu D. Filipa de Lencastre. Ao chegar à Av. João Crisóstomo, decidi espreitar os avanços das obras no ainda incompleto Jardim do Arco do Cego. É que uns dias antes apercebera-se que havia azáfama, máquinas em manobras, gente em movimento, açodada. Pensei: finalmente vai ser concluída a 2ª fase do jardim, talvez para estar pronta no Verão. A 1ª fase, já terminada (claro que com enorme atraso em relação ao incialmente previsto), inclui um grande relvado central, árvores plantadas (excepto a grande palmeira, felizmente preservada), percursos pedonais e mobiliário urbano (ou seja, bancos). Que diferença em relação aos tempos da central dos autocarros!
Maior ainda a diferença quando a 2ª fase fosse levada avante. Qual o projecto, anunciado e prometido publicamente? Como o Senhor Vereador sabe, o objectivo era «transformar a estrutura original da Gare do final do século XIX em jardim coberto, com vegetação exótica, plano de água, percursos, espaços comerciais e culturais». É isso que consta, textualmente, no projecto aprovado pela Câmara.
Decidi espreitar, dizia, convencido que era isso que estaria a ser feito, que era esse o intuito e o motor de toda aquela agitação laboriosa. Subi uma rampa, pela entrada da João Crisóstomo e... papagaio! Um parque de estacionamento! Tudo alcatroado, de ponta a ponta, uma planura de alcatrão com marcações a tinta amarela, dezenas, centenas de lugares para automóveis. Nas últimas eleições, senhor Vereador, votei em si, votei no Bloco de Esquerda. Pergunto-lhe: que raio aconteceu ao Jardim Coberto do Arco do Cego?
Os meus cumprimentos,
João Pedro George