(não consegui identificar o autor desta maravilha)
Na semana passada, devido a problemas técnicos (como o bom senso, o sentido das responsabilidades e «para quê atirar mais gasolina para a fogueira dos nossos cronistas?») a secção
Os Cabelos Arrepiam-se foi censurada. O D. João III que há em mim falou mais alto e, ao correr da caneta, ditou-me: «Deus nos livre de tanta opinião, tanto desabafo, tanto mistifório». Acontece que o piedoso João me apanhou em momento vulnerável, atacado de súbita incompetência cervical, isto a somar a uma incontinência urinária mista resultado de uma anomalia estrutural do segundo cromossoma. Não tive outra saída senão obedecer, curvando a espinha. Mas hoje, recuperado, moita! Eis de volta, remoçado, o D. Pedro I que também em mim reside. Justiceiro, invulnerável a mandamentos, exigiu: «os cabelos arrepiam-se-me quando leio as primeiras frases das crónicas de António Vitorino». Ontem, sexta-feira, 10 de Fevereiro:
«
Num ponto todos estão de acordo: as caricaturas foram apenas um pretexto para um movimento de afrontamento preparado e organizado de forma sistemática e utilizando os modernos meios comunicacionais com mestria».
Deixando de parte essa questão de somenos que é o Vitorino rimador em «movimento/afrontamento» e «preparado/organizado», há uma faceta em António Vitorino que não consigo afastar do pensamento. É ela a bizarria de iniciar as crónicas sempre da mesma maneira. Já a 27 de Janeiro, Vitorino dizia que
«Os vários comentários publicados sobre as eleições presidenciais
convergem todos num ponto».
Vitorino, já se sabia, pertence àquele tipo de pessoas que nunca desconfia do próprio cérebro. Por isso consegue ver coisas onde mais ninguém vê. Como por exemplo esta, em Setembro ou Outubro do ano passado, na RTP: «num ponto todos estamos de acordo, a vitória de Mário Soares nas presidenciais está garantida». Pois bem, os opostos que em mim se digladiam convergem também eles num ponto: «assim que se começa a ler as crónicas de António Vitorino, os cabelos arrepiam-se».