João Pedro:
Agora desculpe-me, mas também me chega a mostarda ao nariz, e agita-se-me na artéria o sangue viking. Eu compreendo alguma irritação inicial, uns impropérios, enfim. Mas isto de andarem a incendiar embaixadas nórdicas já me toca de perto. Cartoons a gozar com isto e aquilo? Pão nosso de cada dia. Uns têm mais piada, outros menos. Mas paus e pedras, tiros, bidões de gasolina? Barbudos em grande plano nas televisões, a mandarem-nos todos para o caralho lá na língua deles? Alto e pára o baile. Porque estamos afinal a falar dos puros que tapam a tromba às mulheres deles para beliscarem loiras europeias entre tapetes das ruelas do Magrebe. Angustiada com tamanho desacato, lá fui espreitar as caricaturas feitas pelos meus conterrâneos. Meu Deus. Umas coisinhas pífias, quase todas sem graça, excepção honrosa àquela em que o Profeta quer impedir mais suicidas à bomba porque tem o stock de virgens em baixo. Ou seja, se quer saber o que acho: se ia haver este chinfrim todo, mais valia terem feito cartoons a sério, tipo o Profeta que não consegue levantar o pau e as virgens todas a rir. Ou o Profeta dengoso, a fazer olhinhos ao eunuco: larilas e burro. Ou o Barbudo a rapar os pintelhos com adaga de ouro, com pequenada a assistir. O que é que podia acontecer? Desatarem a matar católicos ou a incendiar bandeiras, ou a ameaçarem-nos ainda, e ainda, e ainda, que vamos todos pelos ares? Não, desculpem lá, eu até tenho sido tolerante, como boa filha de Trondheim. Quando se babam e me tentam comprar por 200 camelos, regra geral, deixo-os ao menos apalparem-me a bilha, assim para não haver rancores. Mais: até me identifico muito com eles. É raro o dia em que não me vejo de joelhos no chão ou cu para o ar, à espera que me elevem ao cosmos. Andamos afinal todos ao mesmo.
Sua (hoje nervosa, desculpe)
Lena