Lida a brevíssima entrevista que Maria Filomena Mónica concedeu à Visão, por causa de
Bilhete de Identidade, livro de memórias. A obsessão de aparecer, de se pôr em bicos de pés, de se colocar no centro de Portugal e das nossas atenções, a mania de que tudo o que escreve é muito importante e importantíssimo para Portugal. Repare-se na jactância implícita em “havia mitos que tinha criado sobre mim própria”. Note-se o emproamento em “a rebeldia é a minha característica original”. A soberba de “os portugueses não estão habituados a que alguém fale dos assuntos familiares com honestidade” ou “em Portugal ninguém fala disto”. Não fosse Maria Filomena Mónica e Portugal seria ainda mais pequeno e atávico. Provinciano e velho. Ainda aluna do Colégio das Doroteias, descobriu a pobreza: «(...) foi o facto de, já antes, as freiras me terem levado a ver pobres [repare-se na ausência do artigo definido]. Cada um de nós tinha que proteger uma família pobre e eu achava injusto que, na minha família pobre [repare-se na utilização do possessivo], vivesse um miúdo que não podia ir à escola no Inverno porque não tinha sapatos.» A partir daqui, a partir do momento em que Filomena Mónica passou um fim-de-semana “a ver pobres”, ai de quem se atrever a dizer que a Senhora Doutora não conhece a pobreza em Portugal, que não conhece a desigualdade social, que não sabe o que é não ter sapatos para abonançar o frio dos pés. Maria Filomena Mónica era o Vasco Pulido Valente sem a verve literária, apenas a retórica fácil do Portugal país pequeno, atrasado, mesquinho e quá quá quá. Agora, continuando a sua descida em direcção às profundezas da banalidade e das ideias fáceis, Maria Filomena Mónica transformou-se no José Saramago que nunca mais volta a Portugal se Cavaco Silva ganhar as eleições. Afirma a Socióloga: “Escrevi o livro como se não vivesse aqui e, se ele se revelar uma bomba, emigro”. É fantástico! Uma bomba? Um livro, o seu livro, as suas memórias serão assim tão despudoradas, tão bombásticas? O que estará lá? Vou a correr comprar. Mas antes pergunto: O que será de Portugal e de nós se Maria Filomena Mónica emigrar? Maria Filomena Mónica é tão decisiva para Portugal, os livros que escreve, tudo o que escreve, é tão fundamental para o nosso futuro e para as nossas vidas que não me atrevo sequer a imaginar. Arre! que já não há pachorra para os provincianos estrangeirados.