Enquanto entorno o café por cima de um pastel de nata acabadinho de engolir, leio o
Diário de Notícias. Na página 38, entrevista a Jean-Paul Dubois, com o sugestivo título de “Nunca gostei da literatura francesa”. Uma frase como esta reclama atenção. E uma pausa na cafeína. Na página ao lado, frase em destaque: “Faço todos os dias o mesmo: escrevo pouco e vivo muito. Não há melhor fórmula para fazer um livro do que viver bastante. Não acredito na imaginação”. Ora aí está, penso. Começo a gostar deste gajo. E, afinal de contas, quem és tu, Dubois? Jornalista do
Le Nouvel Observateur, já escreveu 17 romances, leu todos os livros de John Updike, gosta de escritores como Bukowski, Richard Ford e Cormac McCarthy e acaba de ser traduzido na Asa:
Uma Vida Francesa, romance vencedor do Prémio Femina em 2004. Fui lendo, até esbarrar nisto: “Trabalho 14 horas e escrevo oito páginas por dia. Não descanso”. Bolas, então o tipo não dizia que escreve pouco e vive muito. Dou por mim enredado em cálculos, contas de cabeça. Um dia tem 24 horas, tirando as 14 em que está a escrever, ficam 10. Dessas 10, digamos que Dubois aproveita 5 para dormir. Restam outras 5. O que é que um bípede pode fazer nessas cinco horas? Aceitam-se sugestões. Escrevam-me. Ensinem-me a viver em 5 horas o que o Dubois escreve em 14.