O Luiz foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso de O Que Diz Molero. Como é isso se passou?Eu estava em Massamá e tive a informação de que a Bertrand me queria editar a Obra Completa. Um dia fui à Bertrand, na Venda Nova, e encontrei o Dinis Machado, que foi gentilíssimo comigo e com o Paulo... encheu-o de álbuns, papel, livros... e deu-me as provas do
Molero – portanto a minha crítica saiu no
Diário Popular antes do livro estar à venda. No dia seguinte comecei a ler aquela merda, aquilo são dois gajos a discutir, e eu disse ao gajo onde estava o meu filho Paulo, o Henrique Garcia Pereira: “opá, eu estou fodido com este gajo, este gajo foi tão simpático comigo e com o meu filho, deu-me tanta merda, e agora isto é uma porcaria, não se percebe nada”. Até que de repente entrei na cegada da cena de porrada com os camones no Bairro Alto... aquilo tinha uma coisa, é que era um livro que já não era escrito com medo da censura, via-se que havia ali... o gajo não era nenhum novato, já tinha escrito 3 romances policiais... havia ali de repente uma força, porque estes gajos se tivessem um bocadinho de vergonha não publicavam os livros que publicaram durante o fascismo… bom, então escrevi o artigo “Descobri um Autor”. Só na semana seguinte é que o
Molero saiu à venda. Estava na feira do livro e apareceu-me o Afonso Praça: “olha, comprei aquela coisa do
Molero por causa da tua crítica, opá julguei que estavas a gozar, mas tinhas razão, aquilo é muito giro…” Depois disse muito mal do
Reduto quase final, numa entrevista ao B.B. Um gajo também não escreve só obras-primas, há altos e baixos... Se um gajo vai a facilitar, a não pensar, se o gajo não é o leitor mais exigente de si mesmo, está fodido, tem a classificação que merece. Eu de facto não descobri autor nenhum, descobri um livro giro…
E aquela história do Fernando Namora, O Caso do Sonâmbulo Chupista?Eu apenas fiz a divulgação da vigarice do Namora… e eu estou em Agosto na cervejaria Trindade com o Serafim Ferreira e com o Herberto Helder, que se está a queixar que aquela gaja, a Maria Estela Guedes, tinha feito um livro com textos que tinha roubado, e de repente o Serafim diz: “opá, isso plágios é o que para aí há mais, eu tenho lá em casa a edição especial da
Aparição que me deu o Vergílio Ferreira com coisas anotadas que o Namora lhe roubou...” E eu estou a ouvir aquilo e estou calado. No dia seguinte telefono para a Amadora, onde mora o Serafim, e pergunto: “ouve lá, aquela tua conversa de ontem, aquilo era blague de café ou era a sério?” “Não, tenho cá o exemplar da
Aparição. Combinámos então o terrível crime nas escadinhas do duque, em que ao cimo das escadinhas eu digo: “ouve lá, tu vais fazer um panfleto e eu edito-te e vamos ganhar um bocado de massa os dois, estamos em Agosto, agora não se vende nada mas vende-se em Setembro”. E ele disse: “eu não posso fazer” – não perguntei porquê, devia favores ao Vergílio Ferreira ou ao Namora, porque o Serafim é um bocado marçano. E eu disse: “então passa-me para cá isso e faço eu”. Estive semanas ou talvez mais, um mês ou dois, a confrontar na Biblioteca Nacional, foi tudo verificado... eu mostrava às pessoas e as pessoas concordavam, aquilo era tudo roubado, o Namora, no
Domingo à Tarde, tinha copiado partes do
Aparição, do Vergílio Ferreira. Fui então ao
O Jornal ter com o Rodrigues da Silva: “ouve lá, achas que isto aqui é publicável? Reposta dele: “opá, o José Carlos Vasconcelos é muito amigo do Namora, nem pensar...” Ninguém queria publicar aquilo. Estavam com medo do Namora. Tive eu de publicar, melhor, tive de arranjar um gajo, o Vítor Belém, ele é que fez a edição. O Belém foi comigo à Tipografia Mirandela, na Travessa Condessa do Rio, perto da Calçada do Combro... era a gráfica desses gajos da extrema-esquerda… aquilo foi composto, eu revi provas, num papel muito ordinário... saiu num folheto de 8 páginas, fiz 5 ou 6 mil exemplares. Despachei tudo, vendeu-se à maluca, alguns iam parar as caixas do correio.