Já falámos sobre isto: quem vem para o jornalismo não estará, certamente, à espera de enriquecer. Milhares de outras profissões no mundo garantirão uma vida mais estável, confortável, prazenteira, do ponto de vista das coisas que se podem comprar com o valor monetário do nosso esforço.
Mas recai sobre o jornalista uma bênção, uma pequena graça divina que se pode tornar inestimável se lhe soubermos ser sensíveis: o jornalista viverá muito mais vidas do que aquelas que o Criador, à partida, lhe ofereceu. É certo que o paga com a própria pele: tem de se tornar um especialista instântaneo em todas as coisas, todos os dias. De manhã, pode estar a entrevistar um economista húngaro acerca do alargamento da União Europeia e, à tarde, ter de dissertar sobre a História dos portugueses na China (conheço um caso real…). E, no dia seguinte, chega à redacção com a mesma disponibilidade para abrir livros pela primeira vez, em idiomas de que, até aí, nunca quisera ouvir falar.
No entanto, o pagamento acaba por chegar. Tudo correndo bem, ao fim de poucos anos de carreira, o jornalista aprendeu o relativamente essencial sobre todas as áreas relativamente essenciais. E ainda sabe um conjunto de coisas acessórias que não mudarão o mundo, mas fazem sempre jeito à mesa, durante uma boa conversa.
Sobretudo, no meu caso, esse trabalho é premiado com o conhecimento de outros pais e outros mestres que aqueles que se teve na idade do crescimento. Ainda hoje me foi dada a oportunidade de passar a tarde em mais uma conversa inesquecível com um vulto grande da cultura portuguesa contemporânea. Do mesmo modo, nunca esquecerei o que aprendi com outros 15 ou 20 grandes homens que jamais teria tido a oportunidade de conhecer se não tivesse optado por não ser rico.
E, afinal, isto ainda agora começou.
Alexandre