Quando Benito Mussolini decidiu visitar a povoação de Piana dei Greci (mais tarde conhecida como Piana degli Albanesi) no ano de 1924, os tempos eram outros mas a cozinha e a adega sicilianas continuavam a cuidar honestamente do estômago dos maffiosi. A uma hora de carro de Palermo, Piana era o feudo de Don Cuccio Cuscia, autarca e chefe incontestado da Mafia local. Segundo Jacques Kermoal, era o “arquétipo da povoação siciliana, com as suas casas baixas e ocres, as suas portadas de cor, o seu folclore particular e mesmo o seu culto católico-ortodoxo”.
Quando o Bugatti branco do Duce assomou às portas de Piana estava-se então no início do mês de Maio. Don Cuccio recebeu-o com uma camisa negra fascista sobre a qual reluzia a cruz de cavaleiro da Coroa de Itália, condecoração atribuída por Vittorio Emanuelle III. Depois dos discursos, durante os quais se fez a saudação romana, os convidados dirigiram-se para as mesas ao som dos vivas da população: “Viva il Duce, viva Don Cuccia!”
Logo que o bispo católico-ortodoxo da minoria albanesa da Sicília benzeu a refeição, começaram a desfilar pernis de mula, chouriços de burro, enrolados de carne com folhas de louro e guisados de carneiro. Os homens de Cuccio Cuscia comiam como autênticos bárbaros, levando à boca pedaços gigantescos de carne e bebendo de um trago os copos do tinto áspero e xaroposo da região.
Mussolini, que estimava as boas maneiras e era homem de boa mesa, sossegou a cólera com a chegada da sobremesa: fruta fresca, ovos em neve e cuccia, um doce de herança árabe que leva trigo, queijo ricotta fresco e mel. Mas por pouco tempo. Logo que regressou a Roma, Mussolini mandou prender Cuccio Cuscia. Começava a perseguição do fascismo à Mafia, que viu muitos dos seus chefes encarcerados na “Villa Mori”, o outro nome que os Palermitanos davam à prisão do Ucciardone. Vinte anos mais tarde, a onorata società vingava-se, apadrinhando o desembarque americano na Sicília.
João Pedro