Entrega da Ordem da Liberdade a Edmundo Pedro. Mário Soares, Aníbal Cavaco Silva e, de costas, o escritor António Alçada Baptista.JPG – Tem uma história de vida invulgar.
EP – A minha vida está ligada ao Conde de Monte Cristo. Para começar, o meu nome vem daí. A minha tia-madrinha, irmã do meu pai, apaixonou-se pela figura do Edmund Dantes e queria à força que eu fosse Edmundo. Foi como se a minha tia, ao atribuir-me aquele nome, estivesse a atribuir-me o destino daquela personagem. Ele esteve preso 10 anos numa ilha, eu também estive. Ele tentou fugir para o mar, eu também (embora ele se tenha safado e eu não). Ele foi denunciado por um tipo que gostava da namorada dele, a Mercedes, com quem veio a casar, eu fui denunciado por um tipo que veio a casar com uma namorada minha. Há coisas do caneco, não é?
JPG – Quando é que saem as suas memórias?
EP – Já tenho centenas de páginas escritas… Vão ser dois volumes. O primeiro vai até à minha saída do Tarrafal, o segundo será desde a minha saída do Tarrafal até ao presente. Espero entregar o primeiro manuscrito até ao final do ano. Estou na fase de revisão. Vou por no livro toda a minha sinceridade, toda a minha emoção… Há coisas que eu tenho que contar com emoção… Quando às vezes me lembro delas vêm-me as lágrimas aos olhos. Sou um bocado sentimental. Às vezes estou a escrever e estou a chorar ao mesmo tempo. Vou por no livro muito da minha maneira de ser e de sentir…