Edmundo Pedro é um homem de acção, daqueles que andam aos tiros. Com 15 anos de idade viu-se dentro de uma prisão, acusado de actividades conspirativas no 18 de Janeiro de 1934. Passado um ano, já em liberdade, foi eleito para a direcção das juventudes comunistas e organizou movimentos de agitação e propaganda nas Escolas Industriais.
Subversivo reincidente. Perigoso! Em 1936, Edmundo Pedro foi preso pela segunda vez, mas agora para inaugurar o Tarrafal, juntamente com o pai e outros dirigentes do PCP. Tinha 17 anos quando desembarcou em Cabo Verde. Tentou fugir várias vezes. Numa delas, quase conseguia, foi por pouco. Ainda conseguiu roubar um barco de pescadores, mas apanharam-no. Por causa disso, esteve 70 dias seguidos na terrível “frigideira”. Como se não bastasse, o PCP castigou-o com dois anos de suspensão: a fuga não tinha sido autorizada, ninguém podia fugir sem antes informar ao Partido. Bateu com a porta. Não estava para isso. Nunca mais quis voltar. “Fui educado lá dentro, sei como é”.
Na família eram quase todos revolucionários, a mãe, o pai, os irmãos. Edmundo Pedro nasceu a 8 de Novembro de 1918, no Samouco (Alcochete), fruto do amor entre um varino e uma jovem camponesa. Mas Margarida e Gabriel Pedro moviam-se nos meios altamente perigosos do anarco-sindicalismo, andavam de agitação em agitação. O melhor a fazer era deixar o pequeno Edmundo aos cuidados da tia paterna, a única que era conservadora na família. A tia queria que ele fosse engenheiro naval, mas Edmundo escolheu ser como os pais, um revolucionário. Fugiu de casa da tia aos 13 anos, idade com que aderiu ao PCP e iniciou a sua actividade anti-fascista.
Edmundo Pedro só saiu do Tarrafal com o fim da II Grande Guerra, na amnistia de 1945. Regressou com 27 anos, alguns cabelos brancos e uma tuberculose. Tornou-se correspondente comercial, tinha estudado línguas na prisão, inglês, francês, alemão… Mas a luta anti-fascista estava-lhe no sangue. Em 1959 alinhou no 12 de Março e na noite de passagem de ano de 31 de Dezembro de 1961 andou aos tiros no quartel de Beja. O golpe não resultou e fugiu para o Algarve. Foi apanhado em Tavira e condenado a três anos e oito meses de prisão. Antes do 25 de Abril ainda voltou à prisão, acusado de contrabando. Nada ficou provado.
Aderiu ao PS em 1974 e durante o chamado “Verão Quente” envolveu-se, com Manuel Alegre, nos contactos com os operacionais do 25 de Novembro. Foi a ele, em nome do PS, que o general Ramalho Eanes mandou entregar um lote de armas para defender as sedes do partido que estavam a ser alvo dos ataques da esquerda radical. A história não terminaria aí. Em Janeiro de 1978, então presidente da RTP, Edmundo Pedro voltou a ser preso. Durante semanas, a sua fotografia fez manchete nos jornais. Porquê? Um ano antes, o Exército tinha pedido ao PS para devolver as armas distribuídas no Verão de 75. Edmundo Pedro tentou reunir as armas, dispersas por algumas sedes nacionais do partido. Guardou-as no armazém de uma antiga firma onde trabalhara. Alguém contou à polícia. “Fui apanhado numa ratoeira”. Tinha muito que explicar à Judiciária. Mas não disse nada. Não falou em nomes. Ficou seis meses preso, até ser absolvido. Desse episódio guarda muitas mágoas, “o mal que me fizeram não tem remédio”.
Com 86 anos, Edmundo Pedro vai publicar as suas memórias. “Estou a sentir o meu horizonte temporal a encurtar-se”.