Com a equipa nacional de futebol, em 1948. Edmundo Pedro é o segundo a contar da esquerda, em pé, com uma mala na mão. No grupo estão, entre outros, Travassos, Jesus Correia, Peyroteu, guarda-redes Azevedo e Francisco FerreiraJPG – E o recomeço da vida em Portugal?
EP – Comecei a ganhar a vida como tradutor correspondente. Quando saí do Tarrafal já sabia bem o inglês, o francês e algum alemão. Foi a minha profissão. A minha verdadeira profissão é tradutor correspondente. Fui correspondente de grandes casas comerciais. Comecei na Federação de Futebol… o facto de o Cândido de Oliveira também ter estado no Tarrafal ajudou… A primeira vez que fui a Paris foi para acompanhar a selecção, tenho fotografias com o Jesus Correia, um dos avançados daquele grupo dos violinos do Sporting. Fui a Paris como tradutor correspondente. E à noite trabalhava como revisor de provas no jornal A Bola. Depois saí da Federação quando entendi que podia ganhar mais numa empresa comercial. Estive na Sociedade Oceânica do Sul e nos laboratórios Lusofarmaco, que nessa altura ainda eram uma farmácia.
JPG – E os seus amigos, quem eram nessa altura?
EP – As minhas companhias eram todas da oposição. Frequentava um círculo de amigos na Costa de Caparica, em casa do Manuel Rodrigues de Oliveira, o fundador das edições Cosmos, e mulher, a Ana Isabel, a Bé. Costumavam estar lá o Tito de Moraes, a mulher dele, a Maria Emília, o Bento de Jesus Caraça, que lançou a Cosmos com o Oliveira. Éramos marxistas. Eu ainda me dizia comunista, apesar de não estar no PCP. Tinha deixado de ser leninista mas continuava marxista. A literatura que se discutia era a literatura francesa, o l’Humanité, o André Gide, o Malraux, o Roger Vailland, toda essa gente, o Henri Barbusse, o Romain Rolland, que eram compagnons de route. Rompi definitivamente com o comunismo quando se deu a invasão da Checoslováquia, em Agosto de 1968.