Conheci-o numa mesa de café. Gostaria que tivesse sido noutro lugar, numa praça, numa rua, mas era o Caffé di Roma do Colombo. Tudo bem. Eu lanchava com uma amiga que morava por ali e ele estava na mesa ao lado, de cabeça baixa, sobre um livro que não reconheci, no pudor de olhar demais e lembrar a dona de casa perplexa diante da estrela da novela. Dali a pouco, entrava mais um rosto familiar. Eu regressava da caixa, guardando o troco na carteira onde ainda estaria o bilhete de algum jogo, e vi-os cumprimentar-se. Jorge Cadete seguia para uma mesa ao fundo e ele deixava-se estar uns segundos mais de face levantada antes de voltar à leitura. Era a minha chance. Com a mesma discrição do ponta-de-lança, cumprimentava-o com um murmúrio e um leve baixar de cabeça. Ele respondia do mesmo modo, por cortesia. Voltei-me, saí e disse para a Rita: “É o Zahovic…”
Sei que isto me deveria ter passado na adolescência, mas, mesmo hoje, não o lamento. Lamento não ter dito mais. Que Quinito estava certo quando o preferiu no Guimarães ao Giovanni que brilharia em Barcelona para logo se eclipsar. Que nunca esquecera o golão do meio da rua que fizera ao Porto. O modo como, já nas Antas, controlava sozinho a fúria dos companheiros a qualquer decisão contrária do árbitro. O radiante que fiquei quando veio para o Benfica; ver a camisola 10, enfim, com dono à altura. O início de todas as épocas, quando sonhava que desta é que era. E seria ele a carregar às costas a equipa até ao título.
Hoje, ter-lhe-ia de dizer também que falhou. Que poderia ter sido muito maior. Mas que passarão anos até que venha outro jogador tão inteligente, tão elegante, que me dê tanta vontade de conversar, à mesa de café, sobre a táctica para o próximo jogo e os livros que andamos a ler.
Alexandre