Chegados à vigésima crónica, é tempo de fazer um agradecimento especial. Quando nos preparamos para escrever todos os dias, a pergunta que nos fazem e que acentua o nosso medo é, inevitavelmente, a mesma: “Mas vais ter coisas para dizer todos os dias?” Depois, ela é repetida dentro da nossa cabeça, ribombando até à loucura, quando acordamos, enquanto comemos, retardando o adormecer. Apontamos, então, duas ou três ideias para os primeiros textos, questionamos se seremos, de facto, pessoas com alguma coisa para dizer, apontamos mais uma ideia boa e outra que talvez dê, voltamos a questionar-nos, e lá chega o grande dia, quando a página está desenhada e tem um espaço em branco à nossa espera. Agora, não há remédio. Tem mesmo de ser. Abrimos o caderninho onde apontámos as ideias, escolhemos a melhor, arrancamos.
Vem o segundo dia, o terceiro, o quarto e, de repente, o medo desaparece e vai dando lugar a uma disponibilidade natural para manter os olhos abertos e descobrir, quotidianamente, temas para as próximas crónicas.
O abismo, contudo, às vezes regressa. Há sempre dias em que estamos demasiados ocupados para pensar e as ideias em reserva vão-se esgotando. E é por isso que tenho de fazer este agradecimento, porque tenho esse problema resolvido.
Aqui na redacção, sento-me ao lado de dois jornalistas magníficos, com muito mais sentido pragmático e atenção do que eu, o Cláudio Delicado e a Susana Dutra, que me deixam tagarelar à vontade para, depois, me dizerem: “Isso dava uma boa crónica”, “ora aí está uma boa crónica”. E pronto. Só tenho de lhes dar razão e apontar a ideia que, sem eles passaria despercebida, no moleskine ou na agenda.
Mil obrigados, então, Cláudio e Susana. Que é como quem diz, à maneira dos oscarizados, levantando a estatueta: “This one’s for you!!”
Alexandre