Antes de abandonar, por uns tempos, a política como prato principal destas crónicas, há ainda mais uma coisa a dizer.
Seria bom que os pequenos partidos reconsiderassem o seu papel, a sua capacidade de representação do eleitorado, o que andam, enfim, aqui a fazer. Aconteceu que, nas eleições, o branco foi elevado a sexta potência política nacional, com 103.555 votantes. O Partido da Nova Democracia teve, por exemplo, cerca de 40.000. E já nem falo no MRPP de Garcia Pereira, que parece ter comprado lugar cativo na plateia do espectáculo político em Portugal – é uma espécie de apaixonado pela arte da representação que vai a todos os castings, mesmo que nunca ninguém lhe dê um papel.
Muitos censurarão o voto em branco; acharão que é uma demissão das suas responsabilidades por parte do cidadão. Mas há uma grande diferença entre quem se abstém e quem vota em branco e, nesse sentido, Saramago tinha, por uma vez, toda a razão: quem se abstém, está-se nas tintas, goza o domingo, acha que já sabe quem vai ganhar, não vê razão para sair de casa; quem vota em branco, dá-se ao trabalho, perde o domingo, sai de casa, vai para a fila, agarra no papelinho com as opções disponíveis, dobra-o, entrega-o. Diz: nenhuma serve. Mais: sabe, à partida, que esse trabalho a que se deu, de nada servirá. É por isso que é um gesto tão nobre. Afinal, qual é a dignidade do voto útil, de eleger o menos mau?
Proponho uma Assembleia em que sejam considerados os números de votos brancos. Se forem suficientes para eleger deputados, lá estarão eles, os lugares vazios, retirando vagas para os outros. Representando menos um ou dois ou três ordenados porque, afinal, foi essa a vontade do eleitorado. Além de ser mais democrático, talvez aí, o resto do pessoal comece a pensar se não estará na hora de mudar a sua maneira de fazer política.
Alexandre