Quando o mundo foi invadido pelos telemóveis, na lentidão natural com que me adapto às coisas novas do universo, vociferei contra a loucura: todos corriam a comprá-los como se de uma vacina se tratassem em época de epidemia de tuberculose. Depois, emprestaram-me um desses objectos catitas para uma viagem de 15 dias e - fraco - deixei-me seduzir.
Hoje, agradeço aos céus a invenção da coisa: mais personalizada, privada e prática que o velho telefone preto do corredor da casa de meus pais. Mas há, na revolução comunicacional que despoletou, um elemento que me fascina mais que os restantes: o SMS, sigla de Short Message Service. No início, era de uso exclusivo de adolescentes; agora, parece-me, é utilizado por gente de todas as idades, para saudar ou enviar recados, quandos as horas são impróprias, a notícia é breve, falar é difícil.
E, há dias, apercebi-me de uma virtude maior: que o SMS seja, afinal, um Serviço de Memórias Simples. A mensagem escrita colocou-se ao lado da fotografia; a memória disponível do aparelho ao lado do álbum. Já não nos limitamos a enviar e receber mensagens. Guardamo-las. Arquivamo-las. Escolhemos este modelo de telefone em detrimento daquele por ter mais espaço para as conservar.
E, aqui e ali, quando ninguém está a olhar, espreitamos o arquivo, o álbum, as mensagens preferidas que guardámos. Relemo-las, sorrimos em silêncio, recuperando a sensação inicial de agrado. Como nas fotografias da viagem, das férias, da família. Porque continuamos a querer, à força, cristalizar o presente; agarrar, com tudo o que temos, o instante perfeito. Enquanto o mundo passa à nossa roda e o tempo faz o seu caminho, olhamos a fotografia, relemos a mensagem, para ter a certeza de que, num momento ou outro, fomos amados.
Alexandre