Portugal move-se por epidemias. Em lugar anónimo, alguém decide o que será norma para amanhã. E o País assina por baixo. Não precisa, sequer, de ler muito. Em cada português, há um opinion maker. E essa miríade de indivíduos atentos e convictos faz turnos na crucifixão ou imortalização, à vez, da iconografia nacional. Do médico ao empregado de café, quase tudo é unânime: a :2 é o melhor canal, não tenho é tempo para ver televisão; aquela TVI é que é uma pouca vergonha, mas gostava muito de ouvir o Marcelo; o Mourinho é o melhor treinador do mundo; isto está tão mal que até tenho saudades do Cavaco; qualquer dia, isto é tudo espanhol e por aí adiante.
Foi assim que se decidiu que tudo quanto fizer este governo é mau. Do terrível mergulho de Morais Sarmento que afundou as finanças nacionais à proposta da possiblidade da reforma aos 70 anos.
Esquecendo a primeira, sobre a qual se escreveu já demasiado, vejamos por que a segunda é uma boa proposta. Primeiro, porque a simples possibilidade de escolha é melhor que a imposição. Segundo, porque muita gente chega aos 65 anos perfeitamente apta a continuar a trabalhar. Terceiro, muitos profissionais, como os professores universitários, já trabalham até aos 70. Quarto, é, amiúde, a ocupação o que mantém vivas as pessoas. Só quem tem 30 anos hoje, é que acha que vai estar muito cansado aos 65; aos 65, quer-se mostrar que se é tão bom como os novos, sentir-se útil, encontrar razões para sair, diariamente, da cama.
Mas o opinion making continuará o seu caminho, em todas as direcções. Por isso, que ninguém durma descansado - afinal, já começa a ser voz comum que Sócrates não tem uma única ideia e Portas é que foi um grande ministro.
Alexandre