Heidegger debruçou-se muito sobre o problema e, talvez como nenhum outro, soube explicá-lo numa expressão feliz - a busca do ser humano é uma procura incessante pela palavra-mestra.
É claro que a maioria das pessoas não pensará nestes termos - “De que diabo está este tipo a falar?”, devem dizer. Mas a verdade é que tudo quanto fazemos na vida é um esforço de comunicação. Esse é o grande abismo que nos separa dos animais ou das plantas. Porque não nos basta existir. Por muito que nos achemos realistas quando dizemos que o importante são outras coisas, o prazer e a dor que alcançamos ou de que fugimos, no limite, o que nos deixa à beira do céu ou do inferno é o sucesso ou o fracasso de um acto de comunicação.
No fim, todos queremos ser compreendidos. Que o outro saiba o que sentimos. Porque, por muitos filhos que tenhamos e família e amigos e colegas e amantes, estamos sempre irremediavelmente sozinhos a cada momento do universo.
Os artistas têm muito esta pose: de não quererem a compreensão, de dispensarem isso. Mas é por demais evidente que são quem mais procura o contrário: querem ser ouvidos, lidos, entendidos. De contrário, estavam quietos, em silêncio, na mudez do seu bastidor.
Eu quero que o outro saiba a minha dor, o meu amor, a minha alegria; quero que o outro pressinta como vejo o mundo, a angústia que se alimenta do meu interior.
Do “logos” grego ao “verbo” latino que, no começo do Evangelho, estava com Deus e era Deus e lhe mostrava o mundo, a tradição do pensamento compreendeu cedo o problema. Cada vida humana é uma tentativa de resposta a essa questão. A palavra-mestra, a palavra final que leve em si a própria coisa de que fala e não seja uma mera representação. A palavra perdida do Arquitecto para os maçons. O que quer que eu ande aqui a fazer, escrevendo diaramente estas crónicas, sem saber onde ecoam.
Alexandre