Habituámo-nos a acreditar numa certa invisiblidade do poder. Ele escapar-se-ia, cada vez mais, das nossas mãos, do alcance das nossas decisões. Pensamos na globalização e no controlo da diplomacia, das organizações internacionais, dos negócios estrangeiros; percebemos o poder das grandes empresas privadas e das suas administrações; somos assaltados pela ideia de que há tramas e acordos, conspirações por debaixo da mesa, interesses - uma palavra amada por todos os participantes dos “fóruns” promovidos pelos media nacionais - “interesses” instalados, o “sistema”, os “eles” que são quem manda.
A pouco e pouco, achámos ingénuo continuar a acreditar que os homens e mulheres que votávamos em eleições livres e democráticas seriam aqueles que, de facto, comandariam o nosso destino, os destinos do mundo. Mais não eram que testas-de-ferro, fantoches, figuras capazes do diálogo e, enfim, de saber estar, enquanto os verdadeiros decisores punham e dispunham conforme mais lhes conviesse.
Esta suporta perda da inocência do cidadão é, estou em crer, a grande causa do desinteresse pela participação nos actos eleitorais. Parece-lhe inútil, inglório, de fachada.
No entanto, os últimos anos do mundo têm provado o contrário: que os protagonistas da História continuam a existir, com rosto e nomes próprios, não se diluindo na mancha nublosa e informe do (mal)dito “sistema”. Veja-se o que a contemporaneidade mudou por uma simples troca de Clinton por Bush; veja-se como uma sangria de três décadas se silenciou posta a morte de Savimbi; coloquem-se, agora, os olhos e a esperança no aperto de mão entre Abbas e Sharon, sob a campa de Arafat.
Quero crer nisto: nos casos de acerto e nos de erro, fomos ainda nós os responsáveis pela escolha. E que um homem sozinho pode mudar a face da Terra.
Ou então nada disto vale a pena.
Alexandre