O Bloco de Esquerda é um fenómeno interessante: nasce da união de três forças políticas com pouca ou nenhuma expressão e transforma-se, desde o primeiro dia, num partido com público. Tem este nome – Bloco – e funciona como tal. Desde que nasceu até hoje, nunca se ouviu falar de qualquer discordância entre PSR, UDP, Política XXI. À medida que vai chegando gente nova, nem se põe o problema: são militantes do Bloco, não de nenhuma das facções. Não perde votos; pelo contrário, vai crescendo de eleição em eleição, como um organismo biológico. E salda-se como a força política que mais cresceu nas últimas legislativas.
Mas o Bloco é, creio, algo que implodirá pela sua própria definição, ou melhor, pela falta dela. O Bloco não é uma tábua de valores nem tem verdadeira representação social. À parte os jovens de hoje, entre os 18 e os 20 anos, que crescerão, inevitavelmente, mas que, por hora, se vestem com as roupas uns dos outros e gritam aquilo que os jovens de todas as sociedades gritam – anarquia, amor livre, abaixo o sistema – quem representa o Bloco?
A auto-destruição teria sido mais rápida caso ascendesse, agora, ao poder, se o PS não obtivesse a maioria absoluta e, num momento de loucura, se decidisse por uma coligação com o partido de Louçã. Porque o Bloco não existe sem manifestações, cartazes, sururu (como eu gosto desta palavra de origem zulu). E, sobretudo, porque os seus jovens barbados não seriam capazes de realizar a revolução: então o sistema contra o qual se levam era, agora, encabeçado pelos seus?
Mas a detonação acontecerá, de qualquer maneira. Afinal, que partido sobrevive sem ideologia? No dia em que aborto, casamento entre homossexuais e consumo de drogas forem liberalizados, o Bloco deixará de ter por que gritar. E quem não tem por que gritar, silencia-se. E quem se silencia, deixa de existir.
Alexandre