Só um país a viver a solidão da orfandade pode explicar a paixão com que se tem seguido o percurso de José Mourinho, um treinador de futebol que, por mais brilhante que seja, é apenas um treinador de futebol.
A início, dizia-se, por piada, que ele é que daria um bom primeiro-ministro; agora, quando tornam a lançar para a fogueira a hipótese absurda, já ninguém se ri. Há, antes, uma anuência. Se calhar, até nem era má ideia…
O problema é que Mourinho se trata, obviamente, de um caso clássico do indivíduo que, em terra de cegos, dispõe da extraordinária faculdade de ter um olho. Ou mesmo dois. É inteligente, competente e até o anuncia, de antemão, ao mundo. É, no fundo, a figura mítica do herói cinematográfico: “here he comes to save the day”. Com ele, não há erro. Se temos um problema, chamamos o Mourinho. Ele, de certeza, não falha.
E essa é a questão. Os portugueses estão fartos de falhanços. De gente que, no momento certo, erra ou, simplesmente, não comparece, se acobarda. O fascínio que Mourinho exerce sobre Portugal é o mesmo que um pai tem sobre o filho ainda criança; do mestre sobre o discípulo; do especialista no aprendiz; do carismático líder do grupo de amigos sobre este.
Como de outros prismas, também deste se consegue fazer uma leitura de Portugal enquanto adolescente à procura do seu caminho. À falta de confiança própria, precisa de se resguardar detrás de quem a tem para dar e vender, o leve pela mão a bom porto. Por isso, nesta semana decisiva, o Governo decide anunciar uma condecoração, com o Colar de Honra ao Mérito Desportivo, a José Mourinho. Porque é o seu único vencedor. O único português que parece saber o que faz. E só é pena que o mundo não seja uma bola de futebol e as finanças públicas se salvem com um losango a meio-campo e gritos, antes da final, de: “Quem somos nós? Portugal! Portugal! Portugal!”
Alexandre