Estaria a escrever un guião para qualquer coisa, numa daqueles noites de clausura em que os relógios funcionam como cronómetros, andando de modo decrescente até ao amanhecer, quando o dia seguinte começa e termina o prazo dado para a entrega daquele trabalho particular. Enchemos a secretária de bens de primeira necessidade (maços de cigarros, cinzeiro, copo e garrafa de qualquer coisa, pacotes de bolachas que nos segurem à vida; a almofada na cadeira que impeça dores lombares até ao ano seguinte; e esse relógio-cronómetro que não nos perca da realidade). Nem um olhar para a cama aberta - nem pensar em cair em tentação.
Já devo ter feito centenas de noites destas. São tão familiares como beber copos com os amigos ao sítio do costume, tal modo que já sinto agrado quando me preparo para enfrentar uma nova. Os guiões, os textos, os livros, as ideias para a reunião, a sinopse, o projecto - termos comuns no léxico de quem anda nestas profissões de escriba, todas elas anexas a essoutra expressão: “prazo”. Ou, na versão integral: “prazo de entrega”, “data de entrega” - “deadline”, como se usa, cada vez mais, no ameaçador modo anglo-saxónico.
Por isso, dou comigo a agradecer a televisão por cabo. Não que me possa dar ao luxo de olhá-la nestas noites, mas porque, assim, sei que mais alguém está acordado, mais alguém trabalha noite fora e desafia o correr lento da madrugada. Apetece espreitar o ecrã e piscar o olho com cumplicidade. “Também eu estou por aqui, amigo”; “vamos enfrentar isto juntos”; “força, companheiro”.
Por isso, camaradas da SIC Notícias, esta crónica é-vos dedicada em particular. Na próxima noite de corrida contra o tempo, façam o favor de piscar o olho também, entre uma notícia e outra. Aqui estarei, deste lado, com uma mão no teclado e a outra no balde de café, a acompanhar-vos no turno da noite.
Alexandre