Se o sucesso político se faz de uma boa gestão dos silêncios, como cada vez mais se defende e regista por aí, então, Jerónimo de Sousa está lançado. A sua prestação no momento decisivo (tanto quanto há ainda algo a decidir), no único debate entre todos os líderes dos partidos com assento parlamentar, foi de uma virtude e de uma invenção há muito desaparecidas da cena política nacional. Santana, perto dele, é um menino de coro. Ainda tem tudo a aprender sobre a arte da auto-fragilização. Bem apregoou que andava com gripe, mas ninguém lhe notou a rouquidão da voz, a palidez da pele, o recuo para além do que mostra a pantalha televisiva.
Acredito, como é óbvio, que Jerónimo estivesse genuinamente doente e que tenha sofrido com a situação e passado a noite em claro massacrado pelo embaraço: sangrar diante do inimigo - a violação de uma regra básica em qualquer combate. Falhar no Dia “D”. Maldita gripe! Maldito azar!
E, no entanto, se este debate será recordado pelo futuro, sê-lo-á, seguramente, por este acontecimento. E, se a CDU não conquistou aqui alguns votos, ganhou, por certo, uma simpatia por que já ninguém esperava. É o lado materno do ser humano, a piedade, o compadecimento.
A verdade é que Jerónimo soube aproveitar-se da situação: “Falta-me a voz, mas não a esperança”; “Se não conseguir dizer mais nada, que diga, ao menos, isto” - palavras que soube arquitectar e deixar no ar, antes do abandono da emissão. E ainda obrigou os adversários a gastar preciosos segundos dos seus discursos finais com referências a si, à sua debilidade física e aos desejos de melhoras.
Se não estava doente e tudo não passou de uma encenação, então, ainda merece maior aplauso. Jogada de mestre. E, afinal, como acrescentaria Aristóteles: “Se o que vais dizer não é mais belo que o silêncio…”
Alexandre