O facto:
“Você assistiu às catástrofes na Ásia… Infelizmente, há por todo o lado muito mais desgraça humana do que aquela que você viu. Ainda consegue ficar indiferente. O seu pequeno gesto significa muito para nós.” É o que diz um pequeno bilhete afixado em várias caixas multibanco da Praça Duque de Saldanha e Avenida da República, seguido de um número de identificação bancária destinado a receber as transferências dos donativos.
O embuste:
Um jornal experimentou efectuar um depósito e, no talão recebido, constava o nome do titular da conta e um número não correspondente a qualquer uma das reconhecidas oficialmente pelo Estado para a ajuda às vítimas do tsunami. Trata-se, na verdade, de uma conta vulgar, aberta num balcão de Almada da Caixa Geral de Depósitos por um indivíduo de 36 anos. Banco e Polícia Judiciária estão já a investigar.
O pulha:
O canalha. O filho da puta. O miserável. O cobarde. O fraco. O esterco. O animal invertebrado que fez isto e que só por acaso poderemos confundir com um homem. Que sabe que 280 mil pessoas morreram numa das maiores catástrofes de sempre. Que meio milhão de pessoas tenta sobreviver em campos de refugiados inventados à pressa possível. Que viu, sentadinho no seu sofá, em frente à sua televisãozinha, os corpos desfeitos, as cidades destruídas, as crianças perdidas dos pais, países inteiros da vontade de viver, e pensou, certamente radiante com o seu génio, que estava ali uma boa oportunidade de safar a sua vidinha.
O convite:
A todos os leitores. Decidam-lhe o castigo que merece. Consigo pensar numa série deles, mas creio que a lei portuguesa não permite nenhum. E que um dia destes lhe conheçamos o nome e o rosto, para que apodreça de vergonha cada vez que for olhado.
Alexandre