Justiça lhe seja feita: Sócrates começa bem. Se, depois de ganhar as eleições, proferiu o discurso de vitória mais redudante e polvilhado de lugares-comuns da História do Homo Sapiens Sapiens, a partir daí parece ter acertado o passo. Antes de mais, soube cumprir a sua primeira promessa: escolher o elenco governativo em regime de total confidencialidade. Mostra eficiência e, sobretudo, inteligência porque, assim, ninguém poderá partir do preconceito com que muito padeceram os governos anteriores, de que eram segundas e terceiras escolhas e por aí adiante. Depois, rodeia-se de um número restrito de ministros; equilibra socialistas e independentes; captura Freitas do Amaral e deixa de fora a “tralha” que lhe parecia ser assustadoramente próxima (vide José Lello e Edite Estrela, por exemplo).
Sobretudo, fica desfeita a suspeita do grande perigo que adviria de um regresso do PS ao poder, precisamente aquela com que tanto acenou o PSD de Santana Lopes: o retorno dos rostos que precipitaram o País na crise. É claro que está aqui gente de Guterres, mas está a melhor: António Costa, Alberto Costa e Mariano Gago, por exemplo (se bem me lembro, o único ministro que sobreviveu às 4.237 remodelações desses governos da era da rosa). O “guterrismo”, de resto, é um mito, uma coisa que não existiu; utiliza-se a palavra apenas por comodismo de linguagem, assim como não houve um “barrosismo” (começou por ser um ímpeto reformista, mas jamais chegou a concretizar-se) ou, muito menos, um “santanismo”. Os últimos governos foram de uma fragilidade angustiante, não foram programáticos, não merecem os “ismos”. Este, faça-se-lhe a vénia, pelo menos começa com sinais de força. Esperemos, para bem de todos, que seja apenas o princípio do “socratismo”.
Alexandre