Desde há uns anos que se tornou muito complicado jantar com alguém. Ou almoçar, lanchar, tomar o pequeno-almoço. Eu sou um rapaz novo, mas ainda venho do tempo em que um bife era um bife, um peixe-espada um peixe-espada, uma cerveja uma cerveja, um sumo um sumo. É um pouco básico, tautológico, mas continua a parecer-me a única forma de fazer as coisas. Dizíamos a alguém: “Vamos tomar um café?” Resposta: sim / não. “Vamos beber uma cervejinha?” Sim / não. “Está-me mesmo a apetecer um bom bife. Queres vir?” Sim / não.
Hoje, amigo leitor, não é assim. A vida tornou-se complexa até aqui. Vou tomar um café consigo. Sentamo-nos. Chamo o empregado e peço: “Dois cafés.” Quando ele traz as chávenas, começam os problemas. Você diz-me: “Ah! Mas queria o meu curto!” Ou longo. Sem açúcar. Com adoçante. Abatanado. Duplo. Com cheirinho. Descafeinado. Pingado. Garoto. Em chávena escaldada. Tudo bem, digo. Bebemos uma cerveja e esquecemos o lapso – venham duas imperiais! “Ah! Mas queria a minha na garrafa!” Ou em copo de plástico. Ou sem álcool. Ou preta. Carlsberg e não Super Bock. Panaché. Lemon. Green. Príncipe. Tulipa. Em copo gelado. A paciência está a esgotar-se, mas, num último gesto de apelo ao perdão, convido-o para jantar. Um bifinho? Boa, um bifinho. Chegamos ao restaurante e que saltem, já, dois bifinhos para a mesa 5! Mas, quando eles chegam, é o apocalipse. “Mas… eu queria o meu bem passado!” Ou médio, ou mal, ou sem ovo, ou com, sem molho, com pão, com arroz em vez de batata, e saladinha à parte, de porco e não de vaca, de peru, de soja, de atum.
NÃÃÃOOOOO!!!!!!
E pronto, leitor. Foi o desabafo do dia. Obrigado por ouvir. Às vezes, sinto-me um primata nos restaurantes. Toda a gente com pedidos complexos e especializados e eu agarrado à minha cerveja e bife e café, com tudo aquilo a que tenho direito. Bardamerda para os lights.
Alexandre