Por muito que o negligencie, a cada vez que saio da capital torno a aprender a lição: Lisboa e o resto do País são coisas diferentes. A cidade dos guindastes e dos andaimes, dos grandes outdoors, dos edifícios novos, das distâncias que custam a fazer a pé, que nos faz sentir em dia de sorte se encontramos, à primeira, um lugar de estacionamento, não tem relação com o resto de Portugal.
Lisboa é a Europa, o sonho do progresso, o provincianismo que, dia a dia, aprende a ser cosmopolita; é o espaço suficientemente grande para albergar de tudo, do bom e do mau; para oferecer opções e esgotar-nos de cansaço num dia qualquer. Portugal não. Portugal é o pequeno país por excelência, o breve rectângulo que se perde no planisfério, o antigo, o simples, o pobre, o rural, de vilarejo, mas verdadeiro.
É claro que não poderia viver noutro lugar que não Lisboa. Onde há cinema todos os dias, a todas as horas; onde não é necessário guardar rações de combate para os feriados porque há restaurantes abertos; onde se pode beber copos nas madrugadas de domingo e comer bifes às três da manhã; onde chegam os jornais todos e se conhecem estrangeiros e vêm artistas de toda a parte e há direito de escolha; onde se pode sair e desaparecer, sem esbarrar na família ou nos colegas. Mas uma ida a Portugal, de vez em quando, lembra-nos da importância das pequenas distâncias, do ter tempo, do céu efectivamente estrelado, das lareiras, do caminhar pelas ruas, da festa de freguesia, da paisagem diante dos olhos, quando podemos admirar tudo quanto ficará muito depois das nossas vitórias e fracassos.
Lisboa é, assim, uma espécie de filho yuppie, novo-rico, desempoeirado. Só é preciso que se lembre, de vez em quando, que veio de gente humilde que ainda prepara a filha para o casamento e cancela a festa porque morreu o velho da aldeia.
Alexandre