“Estou?” “Doutor Nuno Cardoso?” “O próprio.” “Fala o agente M., da PJ. Como está?” “Oh! Meu caro amigo! Então, como está?” “Bem, doutor. Olhe, nós aqui na Judite estávamos a combinar aí uma coisa engraçada, umas audiçõezinhas no âmbito de um processo de acusação de peculato e abuso de poder…” “Epá! Isso é que é muita giro! Vocês é que se divertem à grande…” “Ora, é verdade, sim senhor. Não tenho como negar. Mas é por isso mesmo que lhe estou a ligar: não quereria o doutor dar-nos o prazer de nos presentear com a sua tão honrosa presença? Vir assim a um interrogatoriozito ou outro…” “A sério?! Posso mesmo? Posso?” “Claro, doutor!” “Grande cena! Vocês aí na PJ são uns porreiros, é o que é! Vou, sim senhor, pois ‘tá claro!”
Não sei se foi mais ou menos assim, mas diverte-me pensar que foi. É que Nuno Cardoso, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto, à saída da PJ, ontem, teve a simpatia de esclarecer os jornalistas e o País sobre a suspeição que sobre ele recai em relação a um caso de favorecimento ao Futebol Clube do Porto. Insistiu que está tudo bem, que nada fez de errado, que nem sequer foi notificado ou intimado a uma audição na Polícia Judiciária - ele foi, notem bem, “convidado”.
O acontecimento lembrou-me daquilo que, provavelmente, mais me tira do sério: que me queiram passar por parvo. E como eu, estou certo, o resto dos portugueses. O que os afasta, por exemplo, da política (mas também dos estádios de futebol ou dos serviços públicos), não é tanto a incompetência, porque o piedoso e compassivo lusitano até acha graça às fraquezas e é amigo de ajudar. O que motiva o abandono, o desinteresse, é a percepção evidente de que o estão a tentar enganar. E isso ele não perdoa. Cardoso já o deveria ter aprendido.
Alexandre