Papá, Mamã, cheguei lá. Ainda não tenho casa; ainda estou a tratar de arranjar um carro; duvido, sinceramente, que tenha alguma coisa física em meu nome – essa marca definitiva de realização do indivíduo moderno –, mas já tenho a crónica. Esta coluna de papel, estes centímetros quadrados de página, são meus. O terreno para a construção futura, numa espécie de bairro de amigos, em que toda a vizinhança é conhecida e não se importará que eu faça barulho às 4 da manhã e há-de trocar, entre si, pacotes de opiniões, meio quilito de conselhos e uma ou outra colher de discussão.
Nuno, Rui, Filipe, João Pedro, caros camaradas de blogue: sim, também eu estou preocupado. Que terei ainda para dizer ao fim do dia, depois de ter escrito aqui? Como poderia um realista sensitivo como este vosso amigo não se deixar seduzir mais pela tangibilidade do papel do que pela virtualidade da blogosfera? Mas veremos isso com calma. Afinal, ainda agora começámos…
Quanto a si, caro leitor, o parágrafo final deste primeiro dia. A crónica deve o seu nome a Kronos, o deus do Tempo – não como Saturno, representante do tempo que mata, mas daquele que eterniza. Por isso, nesta morada de letras, far-se-á justiça ao conceito original. Falaremos sobre o tempo e o candidato ao eterno, tentando, por exemplo, não nos distrair demasiado com jogos políticos que não ficarão para a História ou figuras que serão varridas da nossa memória antes que acabemos de soletrar os seus nomes.
Sim, acredite-se ou não, há vida para além de Santana e Sócrates. Vida inteligente.
AB