Dias atrás, recebia uma carta de uma amiga mexicana em que, posta em dia a conversa sobre as nossas coisas do costume (a poesia, o projecto comum em que estamos a trabalhar, o estado de saúde do filho e por aí afora), dedicava largos parágrafos à situação económica do seu país. Dizia que o México vive um momento muito difícil e que, por isso, a sua vida estava mais complicada: trabalhava a dobrar, esforçava-se como nunca, tinha muito menos tempo para si, para a família, para os livros. E, assim como ela, também Octávio, o marido, os amigos, os vizinhos e todas as pessoas que conhecia. Terminava, desse modo, a carta. Mais que as despedidas e os pedidos de resposta rápida, os beijos, abraços e “post scriptums”, falava desta tristeza e da esperança que lhe sucede: a Jeanne, como todos os mexicanos, empenhava o seu tempo e o seu esforço em prol do país porque, se a vida lhe era mais difícil com o Estado debilitado, seria, certamente, mais fácil com um Estado fortalecido.
Nunca ouvi falar de nada semelhante em Portugal. O desemprego aumenta, a dívida externa, os preços sobem, os impostos, o poder de compra diminui, o País perde dnheiro, apoios, fica a falar sozinho, cada vez mais sozinho, fraco e pobre. Alguém diz que vai sacrificar a sua vida por isso? Trabalhar mais para que a produção nacional suba e, por consequência, a sua vida melhore? Não. Nem nos passa pela cabeça. Queixamo-nos, eventualmente tentamos poupar e sentamo-nos, esperando dias melhores, que venha aí um novo governo que resolva todos os nossos problemas para que compremos aquela casa ou troquemos de carro ou façamos, enfim, aquelas férias no Brasil.
Se Portugal fosse uma equipa de futebol, lutaria para não descer. Teria um daqueles balneários frios em que ninguém fala com ninguém e se troca de treinador compulsivamente, à espera que um milagre lhe caia nas mãos.
Alexandre