Andei o ano passado a dar um pequeno curso de literatura portuguesa contemporânea a alunos do secundário. Aos meus ainda-mais-jovens-que-eu alunos, tentei passar o pouco que sei. E, mais que a leitura e estudo das três obras que haviam escolhido, tentei concentrar-me num esforço: se estavam ali, mais certo que quererem ser leitores era o desejo de crescerem escritores. Na última aula, coroando breves monólogos sobre o assunto, ao terminar de cada sessão, ofereci-lhes uma lista de máximas, conselhos aos jovens artistas, compendiada por um grande amigo, a que me limitei a acrescentar duas ou três ideias pessoais.
Uma delas, recordo-me, dizia mais ou menos o seguinte: “O verdadeiro escritor pode não escrever hoje nem amanhã, nem durante uma semana, um mês, anos. Mas recordar-se-á, todos os dias, da sua essência.” Já nem sei bem quem era o autor (talvez Patricia Highsmith), mas era, certamente, daquelas que mais ecoava dentro de mim. Verbalizava a angústia que de mim se apodera quando não escrevo; quando não me dou tempo de escrever; quando dou tempo e, simplesmente, não consigo. Em simultâneo, nunca duvidei de que fosse escritor, no sangue, nos ossos. E, bem mandado pela máxima anterior, lembro-o a mim mesmo todos os dias.
Serve a crónica de hoje, pois, para, por um lado, deixar aos potenciais interessados esta ideia-chave daqueles que ambicionam trabalhar nas obras da literatura; por outro, para confessar a alegria que me vem transportando por, nos últimos tempos, ter regressado, enfim, à escrita regular. Aos meus amigos mexicanos que possam ler, via net: fiquem descansados: já terminei o Heartbreak Hotel, livrinho de poesia que estava prometido. Quanto à Dra. Manuela Cardoso, da Presença: não se preocupe - já regressei ao romance e parece que, desta, será de vez. Daqui dois ou três meses, estará aí consigo. Palavra!
Alexandre