Sempre que há eleições, sinto-me como uma mulher em dia de final da taça: mas para que Diabo é este barulho todo? Eles não te estão a ouvir… É só um jogo… Perderam, problema deles; ganharam, bom para eles… E não entendo o entusiasmo, não consigo, por muito que me esforce (e tenho-o feito), não sou capaz de o partilhar, de me envolver, de acreditar.
Compreendo todos os princípios teóricos, é claro. Não se trata de uma apatia negligente. Pelo contrário. Só acontece por já ter reflectido bastante sobre o problema. É claro que a política deveria ser a ciência mais nobre, a luta por escrever o livro dos homens, da sua coexistência, em direcção ao destino da História. É claro que compreendo a evolução dos tempos, as guerras contra as ditaduras, pelo direito ao voto, pela democracia. É claro que sei tudo isso e compreendo a dignidade do conceito, da ideia, do projecto, da ambição.
Mas é, precisamente, por compreendê-lo e por ser tão fiel aos princípios que me é biologicamente impossível entusiasmar com o que vejo. Palavras para ouvir e queimar; nomes para decorar e esquecer; homens para esperar para ver o que fazem e, depois, deixá-los cair e crucificar.
Que faz aquela gente toda na rua com bandeirinhas? Por que buzinam? Por que me tentam aqueles senhores enganar com palavras doces: “sonho”, “projecto”, “esperança”, “futuro”?
E, ao mesmo tempo, estou rodeado de gente inteligente e experiente que continua a vibrar com tudo isto. E não sei o que lhes dizer. Desculpem, talvez. Mas não me parece que esteja enganado. Leio a República, a Metafísica dos Costumes, a Teoria da Justiça, e não sei onde está a ficção, se nestes livros, se diante de mim.
Alexandre