Não sei bem se imediatamente antes, se depois da Banda-Desenhada subir ao nono lugar no leque numerado das artes, começaram a despontar, por todo o lado, confessos admiradores do exercício outrora reservado à ingenuidade do público infantil. Dos coleccionadores privados às exposições, apareciam fanáticos da Marvel, adeptos rivais da DC Comics, seguidores de Moebius e outros artistas franceses, patrióticos apreciadores do traço português. Como jóias raras, guardam as edições especiais da morte do Super-Homem, têm por modelo de virtudes Wolverine, erguem um coro de vozes decepcionadas com as adaptações cinematográficas, com paixão mais dogmática pela obra original que um especialista na Época Clássica com a versão blockbuster de um texto de Homero.
Lentamente, fui-me sentindo sozinho. Não tivera mais que quatro ou cinco daqueles livros, quase sempre oferecidos por amigos gentis e atentos. Olhava para casa e via a estante cheia de BD - atulhada, na verdade - centenas de álbuns A5, com datas que variam entre este mês de Janeiro e alguns ligeiramente anteriores ao meu nascimento. Nas lombadas, todos referem duas palavras familiares: Walt Disney. E, depois, Tio Patinhas ou Pato Donald ou Mickey Mouse ou Almanaque Disney, Hiper Disney, Disney Especial.
Durante muito tempo, senti-me um básico, um primário, um simplório.
Mas ontem, lendo o quarto volume da colecção “Obras-primas da BD Disney”, decidi dizer: Basta! Já tenho idade para assumir estas opções chocantes. Sim, ainda leio o Zé Carioca e o que é que tem? Ainda me desfaço a rir com o Peninha. Sobretudo, creio que já é hora, já vem sendo tempo, amigos, de se fazerem investigações sérias sobre a genealogia de Patópolis e de Peter Jackson levar ao grande ecrã uma versão séria da saga do Tio Patinhas.
Alexandre