Gostava de conhecer a equipa de criativos que decide, em parte anónima, as datas do calendário. Sim. Anda aí uma malta que, todos os anos, institui feriados, celebrações, dias mundiais e coisa e tal. Dia da árvore, dia da criança, do pai, da mãe, do teatro, do livro, da poesia, da luta contra a sida e do combate à osteoporose; dia da liberdade, da república, sem televisão, sem carros, sem carne, com ovo, molho à parte, dos amigos, das comadres, de S. Cristóvão e da santa padroeira de Milhazes de Baixo. Ninguém fica de fora, toda a gente tem a sua quota. Há o dia da mulher, o dia do africano, do imigrante, a manhã do aborígene e a hora do suazilandês. É bonito, é politicamente correcto, mas enerva.
Vem isto a propósito, é claro, do dia doa Namorados ou de outro santo qualquer, com um nome abichanado e que ninguém sabe quem é nem viu, alguma vez, mais gordo. O dia dos namorados é um fenómeno estranho: ninguém está de acordo com ele, mas lá continua, como uma chaga, alapado ao 14 de Fevereiro – uma pessoa ainda mal se refez das dívidas que contraiu para oferecer presentes a todos no Natal e ter uma passagem de ano a mais de 20 metros de casa e pumba! Lá estão as montras a gemer outra vez: “Compra… Compra…” Ou queres passar por sovina insensível (na melhor das hipóteses), teso maltrapilho (na pior)?
E, no entanto, vejo os solteiros irritados com os casalinhos; não se consegue comprar nada que não venha em forma de coração; e os próprios namorados dizem uns aos outros que o que importa são todos os outros dias do ano e não estas convenções.
Bom, pelo sim, pelo não, aqui fica esta crónica. Pode recortar-se pelo picotado e anexar-se à caixa de bombons. No espaço em branco, em cima, podem escrever o nome da(o) interessada(o). Eu vou andando que ainda tenho de comprar flores.
Alexandre