[Em episódios anteriores desta coluna: a decepção com a política; a não-correspondência entre os grandes projectos filosóficos e a realidade prática; a angústia em não ser já capaz de suspender o cepticismo em relação aos políticos.]
Lentamente, mais importante que a política parece-me ser a educação. Se a educação funcionasse, a política deveria limitar-se a ser uma regulação das instituições públicas. Tal como acontece, hoje, existe apenas como remédio para os erros. E, se calhar, é por isso que fracassa. Por culpa dos eleitores, também. No fundo, é como no amor: se amamos o outro, não por aquilo que ele tem, mas pelo que nos falta, estamos condenados ao falhanço. Os amores funcionam entre pessoas sólidas, completas, com respeito por si próprias, confiança, em que o amado é, portanto, uma mais-valia na sua vida e não um paliativo para as dores. Feita a transposição para a política, com as devidas distâncias, a relação entre eleitores e eleitos fica com as feridas visíveis: eu que não trabalho e não tenho dinheiro; que estudei pouco e tenho um trabalho que detesto; que não estou atento às agendas culturais e sou um ignorante; que conduzia a 200 e fiquei numa cadeira de rodas. Depois, quero que os políticos me resolvam os problemas todos: que me dêem um emprego melhor, uma casa decente, um bom ordenado, cuidados de saúde, a cultura que não tenho. É claro que vai falhar, é claro que me vou decepcionar, é claro que vou contestar esse governo incapaz de me solucionar a vidinha.
Numa sociedade em que todos fossem devidamente educados: a estudar, a trabalhar, a cultivar-se, a poupar, a ter moral, civismo, respeito, humildade, governar seria a tarefa mais fácil do mundo. Por isso, muito mais me assusta um mau pai do que um mau primeiro-ministro.
Só espero ser capaz de o explicar no dia em que tenha um filho.
Alexandre