A provocação própria de virgem ofendida agora encetada pelos responsáveis (?) do PP, retirando do seu “shrine” de líderes a fotografia de Diogo Freitas do Amaral para a enviar ao Largo do Rato, tem tanto de interessante como de primário: interessante porque nos entreabre a porta para o edifício do Caldas e para as reacções dos populares ao receber a notícia de que Freitas integraria o novo executivo socialista (imaginamos Portas a engolir um cigarro, Telmo Correia a engasgar-se com a sopa, Nobre Guedes a estilhaçar os óculos com o punho cerrado); primário porque não vai além dos apupos que os No Name Boys lançam a qualquer ex-benfiquista que passe pelo relvado da Luz com a camisola do adversário ou dos impropérios gritados pela Juve Leo, a cada toque de Simão Sabrosa na bola, de encarnado vestido. É uma espécie de ciúme; uma aplicação do ressabiamento; a revelação da incapacidade de ser maduro, racional, objectivo.
Que o percurso de Freitas do Amaral é invulgar, isso será com certeza. Podemos estar de acordo ou não com a sua passagem da direita para a esquerda, mas é preciso, em todo o caso, admirar o simples movimento. Freitas é um senador, um histórico. Não precisará de provar nada a ninguém; nem de mais prestígio; seguramente, não está aflito com falta de dinheiro. E saberia à partida (Oh! Como ele o saberia…) que, ao tomar esta decisão, se sujeitava à condenação ao fogo eterno; a colocar o pescoço na guilhotina dos críticos; a exibir-se, enfim, com a camisola verde diante da curva da bancada encarnada.
Freitas poderia passar o resto da sua vidinha, tranquilamente sentado no cadeirão, a tecer considerações sobre a miséria do debate político actual, como fazem outros senadores. Mas não o fez. Chegou-se à frente. Como diriam ingleses, “puts his money where his mouth is”. E isso tem de ser louvado.
Alexandre