(A notícia já tem alguns dias, mas, indeciso entre torná-la reportagem ou crónica, fui adiando. Como está difícil encontrar tempo para ir às ilhas, trato-a assim, nestes mil e tal caracteres - também é digno.)
José Decq Mota, líder histórico do Partido Comunista nos Açores, está, há poucos meses, inscrito no Centro de Emprego.
Não sou comunista, nem particularmente apaixonado pela política, nem sequer conheço, em pessoa, o senhor. Mas tenho dificuldade em encaixar a notícia, em aceitar que um homem que dedicou os últimos 30 anos da sua vida à luta pela coisa pública açoriana se veja, agora, enquanto os colegas de carreira caminham douradamente para a reforma, na dependência de um subsídio de desemprego.
Se Portugal, em geral, é conservador, os Açores, como qualquer região pequena, ainda o são mais. Mas, em termos eleitorais, são capazes de surpresas como esta. E se, alguns anos atrás, o PP se viu com apenas um assento parlamentar; agora, nas últimas regionais, o PCP deu por si fora da Assembleia - é um óbvio sinal dos tempos e os comunistas nacionais, para seu bem, não o devem ignorar.
Lamento o acontecimento como idealista: é o fim decretado da utopia, mas a verdade, dir-me-á o realismo, é que a utopia está morta e enterrada há muito tempo e nem sequer deve ter ido para o Céu. Mas lamento, sobretudo, o lado reverso da profissionalização da política personalizado neste caso. Decq Mota dedicou a sua vida ao parlamento regional e ao aparelho partidário e afastou-se, de modo irremediável, da “vida real”. Quando precisou de regressar a ela, as portas estavam fechadas, ninguém o esperara, já não tinha lugar.
Assim, não vale. É demasiado ingrato. E os pais inscreverão os filhos idealistas nas juventudes partidárias de poder, para ter a certeza de que, um dia, terão quem lhes pague a mensalidade do lar.
Alexandre