Comecei, certamente ao contrário da maioria, pelo Amor É Fodido. Depois, fui reconstruindo a história: As Minhas Aventuras na República Portuguesa, do tempo d’ O Independente; A Causa Das Coisas, do Expresso; e, ao longo dos anos, ia esperando A Vida Inteira, O Cemitério de Raparigas, as Explicações de Português. Acompanhei-o na Noite da Má Língua e liguei-o à imagem do rapaz de lacinho e mangas de camisa, por vezes com as mãos atrás da nuca, que via e estranhava, dez anos antes, comentar acontecimentos em pleno noticiário. Soube da sua autoria da letra de “Foram Cardos, Foram Prosas”, para Manuela Moura Guedes; de “Glória”, para a Sétima Legião; dos guiões que partilhou na época gloriosa de Herman José. Passei a comprar o Indy; recuperei o possível da K. Adiante.
Creio que aprendi a escrever, mais do que com os clássicos, com Miguel Esteves Cardoso. Mas, quando ele desapreceu de cena, a tristeza não demorou mais que um minuto, até perceber que só poderia ser assim, que era a única solução fiel ao carácter que eu julgava ter apreendido, que ele sabia como e quando morrer, ao contrário dos outros que se arrastavam, até à pena, pela praça pública.
Poucos meses atrás, procurei-o. Consegui o e-mail e iniciei o contacto para uma entrevista, “uma entrevista das grandes”, como lhe escrevi então. A princípio tudo parecia encaminhado, mas, depois, e de novo, MEC desapareceu. Voltei a procurá-lo para o “cabaz de natal de papel” que aqui publicámos, mas não tive resposta.
Agora, vejo-o de regresso. No Diário de Notícias e na Sábado. Fico feliz por isso. Não fico chateado por me ter desaparecido, embora não compreenda. Saúdo-o, apenas. Bem-vindo a bordo, de novo. E, ao mesmo tempo, até breve.
Alexandre