Quando Jorge Sampaio entendeu que Santana Lopes deveria ocupar o lugar deixado vago por Barroso, sem necessidade de recorrer a eleições, compreendi-o. Quando achou por bem dissolver o Parlamento, depois de todas as convulsões do Governo, compreendi-o. Sempre que se colocou para além da esquerda e da direita, apelou à Constituição, deixou claro que as últimas decisões cabiam ao Presidente da República, em consciência, de modo solitário, também o compreendi.
Mas, quando o rigoroso Sampaio entendeu não esclarecer os motivos por detrás da dissolução, comecei a pensar que seria ingénuo. Quando sugeriu uma alteração constitucional que facilitasse a obtenção de governos de maioria absoluta, achei que estava a dar um tiro no pé. E, agora, vem dizer que compreende que a China demore em respeitar a democracia, o Estado de direito, os direitos humanos e que temos de ter paciência e que estas coisas levam tempo. Chega.
Acontece que a China é, provavelmente, o pior país do mundo. O país de Tiannanmen; o país onde, para construir a monumental barragem de Yangtze, se desalojou, tranquilamente, mais de um milhão de camponeses; o país onde se matam meninas para que a população não cresça ainda mais; o país que não se envergonha de Mao, da sua revolução cultural, de 15 milhões de agricultores mortos à fome, das meninas que, aos 13 anos, eram levadas aos braços do amado líder para a primeira relação sexual e o apuramento da raça.
Anos atrás, João Soares recebia Jiang Zemin em Lisboa e entregava-lhe as chaves da cidade. Agora, é Sampaio quem, ao lado de Hu Jintao, pede compreensão para os pobrezinhos que se vão transformar na próxima grande potência mundial à custa do desrespeito dos direitos humanos.
Santa paciência.
AB