Tenho-o compreendido lentamente. A princípio, não pareceu um problema, mas, a pouco e pouco, tem ganho novas dimensões e, qualquer dia, há-de me tirar o sono. Eu, como os meus colegas de redacção, como aqueles a quem acompanho na senda de ser escritor, como os antigos companheiros de produtoras e grupos de teatro, não escolhi ser rico.
Todos os pais, todas mães, sonham filhos advogados, médicos, engenheiros, arquitectos; sobretudo, filhos que ganhem depressa o seu dinheiro e tenham casas e carros e famílias e vidas estáveis. Eu nunca quis nada disso - olho à minha volta, enquanto escrevo, e sei que a maior parte destas pessoas não escolheu isso. Escolhi um curso que não dava dinheiro, alternei entre profissões que não dão dinheiro. Dinheiro a sério.
Ao ficheiro onde aponto todas as ideias que tenho - para romances, poemas, peças, guiões - nunca foram parar aquelas que tive, episodicamente, para companhias aéreas e hóteis, serviços de originais de restauração ou conceitos de roupa. E, ultimamente, sei que se escrevesse um livro-relâmpago sobre uma pessoa de um determinado leque de 10 ou 20, faria, de modo fácil, muito dinheiro.
Mas não sou capaz. Não sou eu. Eu escolhi, como os meus colegas, ganhar o suficiente para os pequenos luxos, e perseguir, nos delírios mais censuráveis, o Nobel ou o Pullitzer. Escolhi não ter horários nem contratos de trabalho nem estabilidade nem aquilo que os meus pais, como todos os outros, sonharam para a família.
E lembro-me sempre da frase maior de um filme razoável, Road To Perdition, de Sam Mendes, quando o “mau” Paul Newman” diz ao “bom” Tom Hanks: "This is the life we chose, the life we lead. And there is only one guarantee: none of us will see heaven." E volto a dormir. No fim de tudo, Bill Gates não acabará melhor que eu.
Alexandre